quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Camelôs de olho [O GLOBO]

"Camelôs de olho
'400 contra 1' estreia cercado de cuidados para escapar da pirataria
Plantão | Publicada em 03/08/2010 às 08h25m
Rodrigo Fonseca


Foto: Daniel Chiacos
RIO - Frente à demanda pelo DVD pirata de "400 contra 1 - Uma história do crime organizado", cuja estreia está agendada para sexta-feira, em cem cinemas nacionais, camelôs de todo o país, que não conseguiram acesso ilegal ao filme, começaram a apelar para a propaganda enganosa.

- Estou em Belém rodando uma campanha política e tive acesso a um DVD pirata com uma versão do cartaz do meu filme. Só achei curioso que eles mudaram o título de "400 contra 1" para "400 contra todos". Quando fui checar o porquê, descobri que o filme que vinha no disco era "Contra todos", de Roberto Moreira. Os piratas fizeram uma joint venture entre nós - brinca o cineasta paulista Caco Souza.

Seu filme e "Tropa de elite 2" são os longas nacionais mais aguardados do momento entre os vendedores ambulantes que vivem da pirataria.

- Filme brasileiro que dá tiro sempre vende muito. E esse fala de Comando Vermelho. O problema de "400 contra 1" é que ele não cai na nossa mão. Mas todo mundo quer ver o Cazuza de revólver - diz Aristeu Morais, camelô que faz ponto na Penha, referindo-se ao ator Daniel de Oliveira.

Revelado em "Cazuza - O tempo não para" (2004) e visto atualmente no papel de Agnello na novela "Passione", da Rede Globo, Daniel revive a trajetória de assaltos a banco de William da Silva Lima, o Professor. "400 contra 1" é inspirado no livro homônimo de William. Seu personagem ora vivencia ora narra os fatos mais importantes da produção de R$ 4,8 milhões rodada em locações em Curitiba, Porto Alegre, Rio e Ilha Grande. Escolhido como atração de encerramento do 3 Festival de Paulínia, há duas semanas, o longa escapou de ter um destino similar ao de "Tropa de elite" (2007) - visto por 2.421.295 pagantes em circuito, o filme contabilizou milhões de espectadores em vendas de DVDs ilegais - graças a uma estratégia simples.

- Em vez de editar o filme em outra produtora, Márcio Canella, meu montador, optou por fazer a edição em sua casa, usando seu próprio equipamento. E "400 contra 1" foi mostrado a pouquíssimas pessoas antes do corte que levamos para Paulínia. Corte finalizado às 15h do dia 22 (data da sessão em Paulínia) - diz Caco, cujo filme vem sendo encarado como uma prévia para "Tropa de elite 2", cujo lançamento está marcado para 8 de outubro.

Embora não entre pelo universo policial, concentrando-se mais nos golpes e na rotina carcerária de William e seus comparsas nos anos 70, o longa reabre as discussões sobre a falência da segurança pública no Rio - questão que justifica a existência do Capitão Nascimento (Wagner Moura) no longa de José Padilha. E, por pouco, "400 contra 1 - Uma história do crime organizando" não encarou o Bope de Padilha pela frente, uma vez que, originalmente, a volta de Nascimento aos cinemas aconteceria em agosto.

" O problema de '400 contra 1' é que ele não cai na nossa mão. Mas todo mundo quer ver o Cazuza de revólver "

- Escolhemos agosto para aproveitar o pós-férias, sabendo da tradição que o cinema brasileiro tem de emplacar filmes neste mês - diz Caco, ciente de que >ita

Em 2008, depois que "Era uma vez", de Breno Silveira, e "Última parada 174", de Bruno Barreto, gravitaram na fronteira dos 500 mil ingressos vendidos, a recorrência do crime nas telas foi marcada pelo sinal de desgaste. As reações entusiasmadas que o trailer de "400 contra 1" vêm provocando sugerem uma adesão popular. Ainda assim, analistas de mercado acreditam que o êxito comercial do filão com o qual ele dialoga necessita de ressonância social para atrair multidões ao cinema.

- A violência urbana só será um assunto de sucesso quando estiver ligada a algum evento histórico, a algum fato social que tenha se estabelecido como uma marca no imaginário, como foi a tragédia no presídio do Carandiru ou a guerra do tráfico da Cidade de Deus - diz Paulo Sérgio Almeida, do portal Filme B, cujo boletim semanal avalia as bilheterias dos filmes lançados em território brasileiro. - O interesse pela história de uma facção criminosa depende do tipo de abordagem que o diretor der a essa facção. A história da facção por si não é um chamariz. Pelo menos não foi com "Salve geral", que falava do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Se o futuro de "400 contra 1" depende da linguagem usada por Caco na recriação de fatos reais, o filme terá de contar com os elementos documentais usados pelo cineasta na recriação de fatos reais. Entre eles, a luta do criminoso Zé Bigode, chamado no filme de Cavanha e vivido por Fabrício Boliveira, contra um cerco policial de 400 pessoas, cujo enfrentamento dá título ao filme. Para imprimir realismo ao longa, o cineasta passou o roteiro do filme pelo crivo do escritor pernambucano Julio Ludemir, autor de "No coração do Comando" e de "Lembrancinha do Adeus". Pesquisador da origem do crime das comunidades cariocas, Ludemir abordou a vida do Professor nas pesquisas para o livro "O bandido da chacrete".
- "400 contra 1" é um filme mais do subúrbio do que do Arteplex, porque o público de Zona Sul tende, de imediato, a associar qualquer abordagem do banditismo com apologia - diz Ludemir, que está negociando exibições simultâneas do filme em presídios do Rio e da Baixada Fluminense. - Como não existe uma estrutura formal de telas para atender à demanda da Zona Norte e da Baixada por filmes que mostrem a favela à favela, a pirataria resiste. Qualquer filme brasileiro com ação pode chegar ao coração das massas, desde que elas tenham acesso aos filmes."

Retirado do site: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/08/02/400-contra-1-estreia-cercado-de-cuidados-para-escapar-da-pirataria-917298406.asp

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