quinta-feira, 26 de agosto de 2010

400CONTRA1 no Extra Online

William da Silva Lima virou estrela de cinema em '400 contra 1'


Luis Alvarenga

Instituto Penal Cândido Mendes, Ilha Grande, década de 1970. Carceragem da Polinter, São Gonçalo, 2010. Quarenta anos separam os presos de cada uma dessas unidades. Desde o surgimento das facções que comandam o tráfico de drogas nas favelas aos dias de hoje, muitos gatilhos foram apertados. Na parede branca do salão de visitas da carceragem de Neves, um projetor revelou as origens da guerra do Rio para cerca de 80 presos, na última quinta-feira.

Sentados em bancos de cimento ou no chão, os detentos assistiram ao filme "400 contra um". No escuro, algumas pontas vermelhas de cigarro e fumaça. No início, silêncio. Personagem principal do filme, William da Silva Lima, o Professor, ajudou a criar uma das principais organizações criminosas do Rio. Da mistura entre presos comuns e presos políticos, enquadrados na Lei de Segurança Nacional durante a ditadura militar, surgiu a facção da qual esses detentos dizem fazer parte.

William da Silva, hoje com 68 anos, está foragido desde 14 de maio de 2006. Tinha direito a uma visita periódica ao lar, mas não voltou. Passou mais de 30 anos na cadeia, entre idas e vindas. Na sua ficha policial, assaltos a banco, extorsão, sequestro e receptação.

Espécie de representante dos presos, redigia petições para os detentos e cartas para autoridades, quando estava na Ilha Grande. Foi lá que conheceu sua mulher, Simone, mãe de três filhos seus.

William da Silva leu alguns livros enquanto esteve na cadeia, um de seus favoritos era "Capitães da Areia", de Jorge Amado. Também escreveu "400 contra um", em 1991, espécie de autobiogafia sua e do crime organizado, que deu origem ao filme. Vendeu os direitos da obra para o cinema e teve alguns contatos com a produção enquanto estava preso.

O título "400 contra um" é uma referência ao cerco policial que resultou na morte do assaltante José Jorge Saldanha, o Zé Bigode, na década de 80, na Ilha do Governador. Foram 12 horas de tiroteio intenso e cerca de quatro centenas de policiais mobilizados.

Luis Alvarenga 

50 novos detidos por dia no estado

A vida do criminoso na tela chama a atenção dos presos. As imagens de dentro do presídio da Ilha Grande geram identificação. Comentários e risos são ouvidos na sala de cinema improvisada. Nos trechos menos turbulentos, ouve-se o burburinho de quem ficou na carceragem. Ao todo, são 542 presos em Neves, sendo 234 da facção retratada no filme. O restante pertence ao chamado seguro — criminosos que não podem ser misturados com os da primeira ala. Por dia, cerca de 50 novos presos chegam para engrossar as estatísticas da Polinter no estado.

— O sistema prisional da década de 70 é uma realidade não muito diferente do de 2010 — diz o delegado Orlando Zaccone, da Polinter.

Roteirista nega apologia ao crime

Ainda que o filme mostre maus-tratos e revolta como parte da vida de William da Silva na cadeia, a Secretária de Administração Penitenciária informou que "no prontuário do detento não consta nenhuma falta disciplinar". Quase dois meses depois de fugir, no dia 07 de julho de 2006, foi expedido um mando de prisão contra ele. Seu paradeiro é hoje uma incógnita. O roteirista Júlio Ludemir diz que seria interessante ouvir o parecer dele sobre sua adaptação.

— Gostaria muito de saber a opinião dele sobre o filme — conta o escritor, que rebate quem diz que o filme faz apologia ao crime: — Se fosse assim não teríamos filmes como "O Poderoso Chefão". Falar do crime do pobre não é permitido.

 (http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/posts/2010/08/21/william-da-silva-lima-virou-estrela-de-cinema-em-400-contra-1-317933.asp)

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