quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"400 contra 1" + curta "Bom Garoto" no Cineclube Nós do Morro

Quinta, 9 de dezembro · 19:00 - 22:00


Casarão Nós do Morro
Rua Dr. Olinto de Magalhães, 54, Vidigal
Rio de Janeiro de Brazil




Sessão especial com presença dos cineastas Caco Souza, Vinicius Alexandrino e atores dos filmes
http://cinenosdomorro.blogspot.com/2010/12/400-contra-1-no-cineclube.html

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Caco Souza em nota na coluna da Sonia Racy


Vida imita a arte

26 de novembro de 2010 | 23h06
Direto da fonte
Caco Souza cancelou, anteontem, a exibição na favela do Vidigal, de seu longa 400 Contra 1. E justifica. “A situação é tensa. E não é com repressão que o problema será resolvido. As PPPs tiraram o domínio do tráfico no morro, mas o problema continua no varejo”.
O filme conta a origem do Comando Vermelho.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

400contra1 no Nós do Morro!

400CONTRA1 será exibido amanhã no Cineclube Nós do Morro, com a presença do ator Jefferson Brasil e do diretor Caco Souza.

Jefferson Brasil e Lui Mendes
Local: Casarão do Nós do Morro - Vidigal
Data: 25/11/10 - Quinta-feira às 19h

Após a sessão, debate com o diretor Caco Souza e o ator Jefferson Brasil. Entrada franca. Mais detalhes: http://cinenosdomorro.blogspot.com/

400CONTRA1: JÁ NAS LOCADORAS!


400CONTRA1 já está disponível desde o dia 10 de novembro em todas as locadoras de vídeo!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

400contra1: Quarto filme mais visto no Projeta Brasil do Cinemark!

400CONTRA1 ficou em quarto lugar entre os filmes mais assistidos, no XII Projeta Brasil da Rede Cinemark, cinema brasileiro a R$2,00!

Foram exibidos 27 filmes. Eis os dez primeiros:

Tropa de Elite 2.............................48.500 ingressos
Nosso Lar.....................................22.700
O Bem Amado...............................16.000
400 Contra 1................................13.200
Melhores Coisas do Mundo..............12.840
Quincas Berro D´Água....................10.020
Chico Xavier..................................7.000
Lula, o Filho do Brasil......................3.080
5 X Favela....................................2.710
Segurança Nacional........................2.645

Fonte: Filme B

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

400CONTRA1 no Projeto Brasil - HOJE!!!

"400contra1 - Uma História do Crime Organizado", de Caco Souza. O Projeta Brasil de 2010 acontece no dia 8 de novembro (segunda-feira) nos 52 complexos de cinemas da rede espalhados pelo país.




http://cinema.uol.com.br/album/projeta_brasil_2010_album.jhtm#fotoNav=2

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

400contra1 no 18. Gramado Cine Vídeo

Dia 11 de novembro, às 19:30h no Teatro Lupicínio Rodrigues do Serrano - Centro de Convenções - Gramado/RS

http://www.gramadocinevideo.com.br/mostra/longas

Mostra Cine Brasil exibe principais lançamentos do cinema nacional em 2010

No ano em que o cinema brasileiro volta a bater recordes de público e arrecadação, rompendo barreiras estéticas e de mercado, o Centro Cultural Sesi apresenta novamente uma panorama com os principais lmes nacionais da temporada. Agora realizada em parceria com a Universidade Federal de Alagoas, em sua quarta edição a mostra Sesi Brasil virou Cine Brasil – IV Mostra Sesi/Ufal de Cinema Brasileiro, e a partir de 19 de outubro vai exibir produções premiadas em alguns dos principais festivais de cinema nacionais e internacionais, todas inéditas em Alagoas.

Outra novidade desta edição é o projeto itinerante que vai promover sessões cineclubistas em vários pontos da capital e também do interior, com exibições do documentário Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim. Entre os destaques da programação estão longas como 400 Contra 1 – A História do Comando Vermelho, filme dirigido pelo estreante Caco Souza e protagonizado por Daniel de Oliveira, Cabeça a Prêmio, estreia na direção do ator Marco Ricca, com a atriz Alice Braga (Predador) no elenco, além de Como Esquecer, com Ana Paula Arósio, e Antes que o Mundo Acabe, vencedor do prêmio de melhor fillme no Festival de Paulínia 2009.

Paralelamente a programação do Centro Cultural Sesi, que vai concentrar as sessões diárias da mostra, também serão realizadas atividades no Campus da Universidade Federal de Alagoas. Assim como nas edições anteriores, esse ano a Cine Brasil trará para Maceió alguns dos expoentes do cinema nacional. Entre os convidados da mostra estão o ator Marco Ricca (Cabeça a Prêmio), a diretora Ana Luiza Azevedo (Antes que o Mundo Acabe), o ator Carlos Gregório (Guerra Conjugal), o diretor Caco Souza (400 – Contra 1) e o ator Gracindo Junior, que participará de uma homenagem a seu pai Paulo Gracindo numa sessão especial do documentário Paulo Gracindo – O Bem Amado.
http://www.cadaminuto.com.br/noticias/exibirSemCache/id/89839

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

400contra1 no Cine Brasil - IV Mostra SESI/UFAL de Cinema Brasileiro

Vai começar mais uma edição do Cine Brasil – IV Mostra Sesi/Ufal de Cinema Brasileiro. Os principais lançamentos de 2010 estão na programação do evento que irá acontecer de 19 a 24 de outuro, com sessões e debates no Centro Cultural Sesi e na Ufal. Além disso, a mostra traz mais uma novidade: através da parceria com o movimento cineclubista local será realizado o Circuito Pro Dia Nascer Feliz, com mais de 30 cineclubes participantes espalhados por todas as regiões do estado de Alagoas. As sessões gratuitas ocorrerão entre os dias 20 e 24 de outubro com a exibição do filme brasileiro que dá nome ao circuito, do cineasta João Jardim.

Dia 19/10 - Cine Sesi
19h30 - Exibição de 400contra1, em seguida, debate com o diretor Caco Souza

Centro Cultural Sesi: Av. Dr. Antônio Gouveia, nº 1113 - Pajuçara - Maceió/AL
http://www.centroculturalsesi.com.br/evento/22/cine-brasil---iv-mostra-sesiufal-de-cinema-brasileiro

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

400contra1: Um filme sobre política, sobrevivência e amizade, por Danilo Chaves Nakamura

Foto de Carolina Born



 “Sempre achei que o tempo da prisão era um tempo de formação”.
Alípio de Freitas - Resistir


“A prisão é um depósito de carne humana. Não possibilita a ressocialização do preso”.
William da Silva Lima – Senhora Liberdade

Muita coisa já foi dita sobre o longa-metragem 400 contra 1 – Uma história do crime organizado (2010), dirigido pelo cineasta e diretor Caco Souza. “Apologia do crime”, “glamorização da vida de bandido”, “estetização da violência”, “um filme que não sabe muito bem o que quer: se justificar o surgimento do crime organizado, se defendê-lo (o que seria indefensável, indecente), se lembrar a importância dos presos políticos dessa época no sentido de ensinar organização aos criminosos”. Também já o rotularam de filme do gênero “favela movie” e o compararam com diversos filmes: Carandiru (2002), Cidade de Deus (2002), Quase dois irmãos (2005) e outros. O que ainda foi destacado muito pouco é que 400 contra 1 é um filme sobre política.
Expliquemos melhor nosso ponto de vista a partir dos dois personagens e das duas frases que aparecem acima como epígrafe. Alípio de Freitas nasceu em Portugal, estudou num seminário e se tornou padre. Segundo suas palavras no curta Resistir, já conhecia a pobreza em Portugal, mas no Brasil conheceu a miséria. Em São Luis do Maranhão diante dessa nova realidade, ajudou a ATAM (Associação, dos Trabalhadores Agrícolas do Maranhão) a organizar os camponeses. Passou por treinamentos em Cuba, ajudou a organizar os camponeses da Liga Camponesa e, durante a Ditadura Militar, aderiu a Luta Armada pela AP (Ação Popular). William da Silva Lima, também segundo suas palavras no curta, ao andar pela cidade percebeu as diferenças e as exclusões. Também conhecido como “professor”, William é conhecido como um dos fundadores do CV (Comando Vermelho). Já cumpriu mais de 36 anos de prisão e hoje se encontra foragido. O que há em comum entre eles? Ambos estiveram presos durante a Ditadura Militar.
Comentemos o filme, pois ele remonta o contato de William com militantes de esquerda. 400 contra 1 inicia com imagens do assalto do BANERJ em 1980 que, segundo William, foi o assalto mais espetacular que ele e mais 9 foragidos fizeram. A seqüência do filme é uma narrativa não linear.
 

·         1971 - William começa a narrar sua vida.  No início o filme mostra William e outros presos chegando a Ilha Grande, junto com a advogada Carmem que vai ao presídio como uma pesquisadora e militante da causa dos direitos humanos. A narrativa de William já revela a divisão do presídio em bairros, fala dos jacarés (que dominavam o presídio) e da grade que dividia os presos políticos dos presos comuns. Grade que não existia em suas outras passagens pela Ilha2.
·         1980 - William e Neco (preso político que com a queda do seu aparelho foi para o crime) programam o assalto. Num bar, a advogada aconselha os foragidos a não fazerem isso.
·         1980 - novamente as cenas do assalto ao BANERJ.
·         1976 - presos que trabalhavam no terreno do presídio fogem.
·         1971 - William narra o contato entre presos políticos e presos comuns. Tráfico de livros, linguajar emprestado (caixinha, luta de classes) e fala que isso é algo que vem desde os comunistas presos pelo Estado Novo e depois os sargentos e marinheiros presos com o Golpe de 64.
·         1973 - presos políticos e presos comuns debatem a necessidade da grade.
·         1979 - William e Teresa são abordados por policiais, pois estavam namorando num local perigoso.
·         1973 - novamente a questão da grade aparece. William conversa com Neco. Este diz que a grade é necessária para mostrar a existência de presos políticos para a Ditadura. Depois, os presos comuns discutem o livro de Marighela. No dia da visita dois presos são mortos por tentarem fugir. E diretor diz que as reivindicações dos presos políticos serão atendidas, eles serão transferidos para um presídio no continente. Nova discussão sobre a igualdade entre os presos.
·         1980 - novo assalto e compra de um barco para resgatar os presos. Protestos se intensificam, os presos comuns queimam o uniforme. Com a transferência dos presos políticos, os comuns iniciam uma greve de fome. Mas não há nenhum tipo de comoção. Um preso morre - segundo William - o primeiro a morrer numa greve de fome no sistema carcerário brasileiro. Guerra entre os presos comuns se inicia. Fundão se impõe perante os jacarés. Após o conflito, o diretor do presídio escreve um relatório e nomeia o pessoal do fundão de FV (Falange Vermelha), ou CV (Comando Vermelho). Eles assumem o nome e, segundo William, promovem mais de 300 assaltos e mais de 100 fugas são financiadas com as caixinhas.
·         1979 - fuga de William e outros companheiros.
·         1981 - Assalto que dá errado, muitos são mortos e outros torturados. Destaque para a batalha de Cavanha contra 400 policiais no conjunto residencial dos bancários. William volta para cadeia.

É importante destacarmos como o William descreve o Comando. Ele diz: “O Comando é um comportamento, uma forma de sobrevivência”. O lema Paz, Justiça e Liberdade também dizem respeito ao comportamento. Paz entre o coletivo, Justiça é a nossa lei e Liberdade para fugir, para pular o muro. É interessante também percebemos que nas cenas de liberdade são poucos os momentos em que não estão correndo o risco de voltarem pra cadeia. Tirando o momento em que estão numa laje fazendo um samba ou quando estão num churrasco entre as famílias, todos os outros momentos são marcados pela tensão do assalto. Mesmo quando William está namorando no carro com Tereza, ele é abordado por dois policiais.
Mas voltemos para nosso problema inicial, o contato entre presos políticos e presos comuns. William que já tinha passado pela cadeia enfatiza que antes o convívio era mais fácil. Ele relembra que esse convívio é antigo, remonta o período do Estado Novo e, posteriormente, a prisão dos sindicalistas, marinheiros e sargentos. Algo que ele também falou no curta Senhora Liberdade: “Eles conviveram com a massa. E tanto eles assimilaram a teoria nossa (...) eles não conheciam a teoria de esquerda. Eram simplesmente sindicalistas rebeldes, mas tinham um modo de viver comum, começamos então a formar um grupo de estudo e eles se integraram a esse grupo de estudo e também uma convivência mais produtiva, eles faziam bolsas e material artesanal. E quando a repressão os chamou, o sargento que era a liderança (...). Antonio Prestes de Paula e Marco Antonio Silva Lima, que foi morto em Copacabana pela repressão com a esposa dele. Chamaram eles para separar, eles disseram que era a massa. Eles não quiseram separar, eles queriam conscientizar mais a massa através dum trabalho, através de coisas concretas3. Quando foi para Ilha Grande, já era outro tipo de preso político. Eram intelectuais, pessoas de classe média, pequenos burgueses (PBs), imediatistas. “Organizados éramos nós!” “Não foram os presos políticos de 64 que determinaram nada”.
Alípio de Freitas tem uma versão um pouco diferente. Ele não nega que alguns presos políticos recusaram o convívio com os presos comuns. Também não nega que isso tenha a ver com a natureza social dos grupos. Mas enfatiza: “Quem enfrentou a Ditadura, do ponto de vista radical, foi a pequena burguesia”. E mais: “O que eu posso afirmar e reafirmo, é que sempre que houve necessidade e interesse da parte deles de divulgar os problemas deles, nós fizemos através dos meios que nós dispúnhamos que eram certamente mais do que eles tinham4.
Longe de querer condenar um dos lados e longe de querer condenar, por exemplo, a tática dos presos políticos de quererem se diferenciar, pois, a nosso ver, era tarefa deles denunciar a existência de presos políticos durante a Ditadura Militar e, como sabemos, a publicização das torturas e das mortes pela Ditadura ajudou a desestabilizar o regime. Todavia, as torturas continuaram para uma parcela da sociedade e não podemos deixar de dar ouvidos as palavras de William se quisermos realmente entender o que aconteceu e o que vem acontecendo. Afinal, numa sociedade de desassalariamento sistêmico, de programas sociais compensatórios e de desagregação da condição de classe, os encontros e desencontros que aconteceram lá nos presídios nos revelam o fosso ainda aberto entre a classe média militante e a ralé estrutural das periferias quando o assunto é fazer política5.
Diz o William sobre os presos da luta armada: “Esse luta pela sua reintegração dentro do sistema que ele não quer mudar, ele não quer mudar. Temos provas ai, estão candidatos a deputado, presidente... Que mudar nada!” “Foi uma questão de... Choque de costumes, porque aqueles, não vão querer que aquele companheiro que assaltou um banco, que é do morro, nascido numa sociedade completamente heterogênea, né? Seja igual aquele que é da Liga Camponesa”. “O Partidão a gente sabia que era ortodoxo e também ia discriminar os lumpens”.  
André Borges, outro personagem do curta Resistir  (foi preso comum e preso político), concorda com William, mas tira uma conclusão “ortodoxa”: “Há luta de classes, tá! Há...” E conclui: “Se comprovou o que? De que aquilo que a gente colocava, que a revolução não ia pra frente porque eles eram incompetentes, não eram pessoas habilitadas... Ora conduzir um processo desse, era um processo de luta armada, um processo longo, que requer disciplina, conhecimento histórico e fibra, tá entendendo, a história hoje comprovou que a gente estava certo”.
Só um parênteses, a comparação com o filme Quase dois irmãos é interessante para pensar esse problema, pois a história desse filme se inicia antes da separação entre os presos e chega nos dias de hoje. Lá, Miguel e Jorge, dois amigos de infância, vêem seus caminhos se juntarem e se separarem por uma questão de classe. Ambos foram presos na Ilha Grande durante a Ditadura Militar e ambos assistem a construção do muro que separou os presos políticos dos presos comuns. Passado a Ditadura, Miguel se torna senador e coordenador de projetos sociais e Jorge, preso novamente, comanda o tráfico da cadeia. Miguel decide reencontrar com o amigo para conversar sobre projetos sociais na favela. Nessa conversa o destaque fica nas justificativas, quase demagógicas, e nas afirmações de ambos os lados sobre seus destinos (violência e tráfico de drogas de um lado e políticas públicas de compensação social e parcerias com ONG(s) de outro). Ambos não negam, os dois lados perderam, mas Jorge enfatiza: “Vocês perderam bonito”.
É essa separação e são esses destinos que as duas frases - que destaquei na epígrafe - revelam. Para Alípio, o tempo da cadeia foi um tempo de formação. Um período de aprendizado por quem sobreviveu a tortura e soube sublimar a experiência em uma avaliação sobre os erros e os acertos . Formação, tal qual pensavam os românticos, mas adaptada a nosso contexto nacional, ou seja, uma experiência pela qual a figura realizada é constantemente confrontada com sua própria limitação, mas que em seu (des) caminho  conduz à autonomia dos homens. Pôde assim avaliar a luta armada como um erro e continuar na luta pelo socialismo. Já para William, a prisão não possibilita a ressocialização do preso. Ela o teria transformado num trapo humano se ele não tivesse fugido. É algo que como uma bola vai e volta e isso reflete na sociedade.
 Poderíamos como fez W. Benjamin com F. Biberkopf - operário e ex-presidiário - personagem do romance Berlin Alexanderplatz (1929), de Alfred Döblin, falar de uma Educação Sentimental dos marginais. Afinal, assim como o operário dos anos 20 na Alemanha, a história de William tem algo de épico e “nos momentos em que o detento consegue ajudar-se, sua existência não pode mais nos ajudar”. Ou ainda, entender seu percurso como uma experiência parecida com a do personagem Malik El Djebena do filme Un Prophète (2009) de Jacques Audiard. Trata-se da história de um descendente de árabe preso na França. Esse passa por um longo aprendizado para sobreviver num presídio dominado por máfias (italiana e árabe). No final do filme, esse sai da prisão formado, pronto para liderar o crime. Todavia, por mais que o mundo dos marginais seja homologo ao mundo burguês, como quer Benjamin, e William confirme isso, “as raízes da exclusão, tá dentro do problema socioeconômico, isso aí é indiscutível”. E, por mais que possamos ver no percurso de William algo de individual como para o árabe Djebena, o filme 400 contra 1 aborda a coisa de outra maneira.
Não se trata aqui de Formação no sentido clássico do termo. Nem num sentido individual, nem no sentido das classes sociais. A vida de William e dos presos que continuaram a gritar nos cárceres é a vida do indivíduo a ponto de se transformar num trapo. A classe - bem - essa aparece dissolvida nas correrias e nas virações que a vida impõe a cada um. No entanto, para que esses homens sobrevivessem, o filme destaca a necessidade deles terem uma organização, não por conta do aparelho, mas sim da amizade e da afetividade. “Essa cresceu entre nós e é indestrutível”. Enfim, a esquerda histórica para sobreviver já soube que isso era imprescindível. Hoje, enquanto a amizade carcerária se espalha por toda a periferia, a esquerda procura reatar esse fio afetivo  que esquecemos o que é e o que significa.
 

Danilo Chaves Nakamura6


[1] Esse texto é fruto do debate que ocorreu no dia 01 de setembro de 2010 na Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo. Antes do debate, assistimos o longa-metragem “400 contra 1 – Uma História do Comando Vermelho” e os curtas “Senhora Liberdade” e “Resistir”.

[2] Sobre a construção da grade, ver: Quase dois irmãos (2005).
[3] Ver: Senhora Liberdade: http://www.youtube.com/watch?v=-lCHgA93XhQ
[5] Como bem lembrou José Arbex, se por um lado o Brasil vai muito bem , crescimento econômico, sede de eventos internacionais, por outro, “um indício indiscutível da barbárie é dado pelas estatísticas sobre a extrema violência policial combinadas com a ação de esquadrões da morte e milícias contra as populações de jovens e trabalhadores que vivem nas favelas e periferias. Se, em outubro de 1992, o massacre de 111 presos do Carandiru causou comoção, hoje as execuções somam UM  CARANDIRU POR DIA, segundo estimativas conservadoras da ONU. Os fatos são inegáveis: o Estado brasileiro pratica uma política de terrorismo contra os trabalhadores e jovens da cidade e do campo de maneira direta e indireta (não apenas na  forma da violência física, mas também nas medidas típicas de regimes racistas, como o uso do expediente inconstitucional do mandado de busca coletiva em favelas)”. Ver: http://carosamigos.terra.com.br/index_site.php?pag=revista&id=146&iditens=710

[6] Historiador formado pela USP.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Imagens da projeção na Polinter em Neves

Algumas imagens da exibição na Polinter em Neves. Estiveram presentes o colaborador do roteiro Julio Ludemir e os atores Jonathan Azevedo, Lui Mendes e Jefferson Brasil!

Projeção em digital na Polinter em Neves

Julio Ludemir e atores falam com detentos para apresentar o filme
A projeção foi na ala de visita da carceragem

Lui Mendes, Jonathan Azevedo e Jefferson Brasil 

Fotos de Alcyr Cavalcanti e Guilherme Rocha

Exibições não-comerciais, por Julio Ludemir

Já participei de três exibições alternativas - duas delas em carceragens da Polinter e uma no Chapéu Mangueira, favela da Zona Sul carioca ocupada com uma UPP. Em apenas uma delas, a primeira, na carceragem de Neves, em São Gonçalo, o elenco foi. Essa primeira exibição também foi a única acompanhada pela conservadora mídia carioca, que mais uma vez voltou a sugerir que essa produção é uma apologia ao crime organizado.

Foram três experiências emocionantes, que me deram a certeza de que "400 contra um" é um filme com forte apelo popular, apesar da sofisticação da montagem. Senti-me um ídolo pop ao conversar tanto quanto os presos quanto com os moradores da favela do Leme. Todos eles pediram para que voltássemos outras vezes, e que repetíssemos a exibição para comunidades amigas. Na próxima quarta-feira, por exemplo, terei que ir à carceragem de Caxias, dessa vez por solicitação dos presos.

Na exibição da carceragem de Nova Iguaçu, ocorreu um fenômeno absolutamente espetacular, que só fez aumentar a carga de emoção daquele encontro dos presos do Comando Vermelho com a história da facção. É que um carcereiro anunciou a liberdade de três presos que estavam assistindo ao filme. A exibição foi interrompida para que os presos cantassem o hino da liberdade, onde todo o coletivo celebrava a liberdade de um de seus companheiros de uma forma não muito diferente, nem menos entusiasmada, de uma torcida organizada. A exibição foi retomada logo em seguida.

Os moradores do Chapéu Mangueira, embora a UPP esteja redesenhando o mapa da violência no Rio de Janeiro, se dispuseram a mobilizar tanto policiais quanto ex-bandidos da facção que ainda moram na comunidade para uma próxima exibição, que querem incluir na programação oficial do trabalho de ocupação cidadã em curso na favela. Um desses moradores ficou de articular exibições nas 10 favelas com UPP no Rio de Janeiro. Ao contrário da classe média, as classes populares entendem que quanto mais se debater a violência mais chances a população carioca, principalmente a das comunidades faveladas, tem de se proteger dela.
Julio Ludemir, colaborador do roteiro

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

400CONTRA1 na Sessão ABC dia 13/09, às 20h, na Cinemateca Brasileira



Sessão ABC: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMATOGRAFIA 

Exibição do filme 400CONTRA1 - Uma História do Crime Organizado



Debate com Rodolfo Sanchez, ABC
Márcio Canella
Emerson Bueno
Zeca Daniel

Dia 13 de Setembro de 2010, na Cinemateca Brasileira - SP, pontualmente às 20h.
ENTRADA FRANCA

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Bilheterias nacionais



400 CONTRA 1 - Uma História do Crime Organizado completou a quarta semana em cartaz!
E está em quarto lugar nas bilheterias brasileiras!!!!!


Fonte: Boletim Filme B

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

400contra 1. Uma História do Crime Organizado: exibição e debate na Universidade de São Paulo



Há 9 anos o filósofo Paulo Arantes coordena um círculo de debates quinzenais no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. 

Com temáticas variadas os seminários englobam assuntos de interesse político, social e/ou estético. 

Na próxima quarta feira (dia 01 de setembro às 19.30) o longa metragem 400contra 1. Uma História do Crime Organizado, os documentários Senhora Liberdade e Resistir dirigidos por Caco Souza, serão exibidos e debatidos no âmbito do seminário. O evento é aberto ao público.

Endereço: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Departamento de Filosofia, sala 103.
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315
Butantã. São Paulo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"400 CONTRA1 - Uma História do Crime Organizado" completou três semanas em cartaz!!

E está no ranking dos 10 filmes mais vistos no Brasil!!

Confiram no link: http://entretenimento.br.msn.com/cinema/artigo-adorocinema.aspx?cp-documentid=25342715

Agradecemos a todos os espectadores que nos possibilitaram essa conquista e convocamos os futuros!

Estamos em exibição nas seguintes cidades:

Anápolis
Angra dos Reis
Aracaju
Belém
Belo Horizonte
Blumenau
Brasília
Campinas
Criciúma
Curitiba
Diadema
Florianópolis
Fortaleza
Goiânia
Guararapes
Guarulhos
Joinville
Juiz de Fora
Manaus
Niterói
Nova Friburgo
Osasco
Palhoça
Recife   
Ribeirão Preto
Rio de Janeiro
Salvador
Santo André
Santos
São Bernardo do Campo
São Gonçalo
São João de Meriti
São José dos Campos
São Paulo
São Vicente
Tubarão
Vila Velha
Vitória
Volta Redonda

400CONTRA1 em São Carlos

Nesta quinta-feira o filme "400CONTRA1 - Uma História do Crime Organizado" será exibido na cidade de São Carlos, dentro da programação da Semana da América Latina - 2010, que acontece na cidade.

Confiram o link: http://www.culturaproex.ufscar.br/semana-da-america-latina-2010

400CONTRA1 no Extra Online

William da Silva Lima virou estrela de cinema em '400 contra 1'


Luis Alvarenga

Instituto Penal Cândido Mendes, Ilha Grande, década de 1970. Carceragem da Polinter, São Gonçalo, 2010. Quarenta anos separam os presos de cada uma dessas unidades. Desde o surgimento das facções que comandam o tráfico de drogas nas favelas aos dias de hoje, muitos gatilhos foram apertados. Na parede branca do salão de visitas da carceragem de Neves, um projetor revelou as origens da guerra do Rio para cerca de 80 presos, na última quinta-feira.

Sentados em bancos de cimento ou no chão, os detentos assistiram ao filme "400 contra um". No escuro, algumas pontas vermelhas de cigarro e fumaça. No início, silêncio. Personagem principal do filme, William da Silva Lima, o Professor, ajudou a criar uma das principais organizações criminosas do Rio. Da mistura entre presos comuns e presos políticos, enquadrados na Lei de Segurança Nacional durante a ditadura militar, surgiu a facção da qual esses detentos dizem fazer parte.

William da Silva, hoje com 68 anos, está foragido desde 14 de maio de 2006. Tinha direito a uma visita periódica ao lar, mas não voltou. Passou mais de 30 anos na cadeia, entre idas e vindas. Na sua ficha policial, assaltos a banco, extorsão, sequestro e receptação.

Espécie de representante dos presos, redigia petições para os detentos e cartas para autoridades, quando estava na Ilha Grande. Foi lá que conheceu sua mulher, Simone, mãe de três filhos seus.

William da Silva leu alguns livros enquanto esteve na cadeia, um de seus favoritos era "Capitães da Areia", de Jorge Amado. Também escreveu "400 contra um", em 1991, espécie de autobiogafia sua e do crime organizado, que deu origem ao filme. Vendeu os direitos da obra para o cinema e teve alguns contatos com a produção enquanto estava preso.

O título "400 contra um" é uma referência ao cerco policial que resultou na morte do assaltante José Jorge Saldanha, o Zé Bigode, na década de 80, na Ilha do Governador. Foram 12 horas de tiroteio intenso e cerca de quatro centenas de policiais mobilizados.

Luis Alvarenga 

50 novos detidos por dia no estado

A vida do criminoso na tela chama a atenção dos presos. As imagens de dentro do presídio da Ilha Grande geram identificação. Comentários e risos são ouvidos na sala de cinema improvisada. Nos trechos menos turbulentos, ouve-se o burburinho de quem ficou na carceragem. Ao todo, são 542 presos em Neves, sendo 234 da facção retratada no filme. O restante pertence ao chamado seguro — criminosos que não podem ser misturados com os da primeira ala. Por dia, cerca de 50 novos presos chegam para engrossar as estatísticas da Polinter no estado.

— O sistema prisional da década de 70 é uma realidade não muito diferente do de 2010 — diz o delegado Orlando Zaccone, da Polinter.

Roteirista nega apologia ao crime

Ainda que o filme mostre maus-tratos e revolta como parte da vida de William da Silva na cadeia, a Secretária de Administração Penitenciária informou que "no prontuário do detento não consta nenhuma falta disciplinar". Quase dois meses depois de fugir, no dia 07 de julho de 2006, foi expedido um mando de prisão contra ele. Seu paradeiro é hoje uma incógnita. O roteirista Júlio Ludemir diz que seria interessante ouvir o parecer dele sobre sua adaptação.

— Gostaria muito de saber a opinião dele sobre o filme — conta o escritor, que rebate quem diz que o filme faz apologia ao crime: — Se fosse assim não teríamos filmes como "O Poderoso Chefão". Falar do crime do pobre não é permitido.

 (http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/posts/2010/08/21/william-da-silva-lima-virou-estrela-de-cinema-em-400-contra-1-317933.asp)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Três momentos do crime em três tomadas

Na edição do mês de agosto da revista Brasileiros, o filme 400CONTRA1 está na matéria sobre produções cinematográficas que falam sobre o crime no Brasil em diferentes fases.



O texto é de César Alves e pode ser conferido na íntegra aqui.

Segue abaixo o trecho do texto que fala do filme:

"Organizando para desorganizar
Também protagonizado por Daniel de Oliveira e com base em uma autobiografia - a de William da Silva Lima, um dos fundadores do Comando Vermelho -, estreia em 6 de agosto, 400 contra 1, filme de Caco Souza. Tendo como subtítulo Uma História do Crime Organizado, a produção é representativa da fase de organização do crime no País. Estamos no Rio de Janeiro, em 1974, em plena ditadura militar quando, tanto presos políticos quanto assaltantes de banco comuns, eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e cumpriam pena no Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande. William fazia parte da massa carcerária e assistiu à chegada dos presos políticos. Foi um dos primeiros a perceber a solidariedade entre eles e a se dar conta de que juntos e organizados - ele e seus companheiros - poderiam obter melhores resultados de tratamento humanitário.

Contrariando a tese, de que os "comunistas" teriam ensinado técnicas de guerrilha aos criminosos, o depoimento de William deixa claro que a única colaboração foi a de abrir suas mentes para o conceito de coletividade. Logo, começaram a se organizar em falanges internas - a organização, no início, era conhecida por Falange Vermelha - e, os que saíam, a promover a organização externa. No início da década de 1980, o CV já infernizava a vida da Polícia Militar carioca, promovendo assaltos e fugas espetaculares. A tomada dos morros e o domínio do tráfico de drogas são as etapas seguintes. O título, 400 contra 1, remete ao cerco realizado por 400 policiais para capturar um único fugitivo, Zé Bigode, amigo de William e também um dos fundadores da organização. Bigode resistiu por 12 horas, sendo morto pelos policiais ao final do confronto.
"

Presos de SG assistem a filme sobre o Comando Vermelho [O Fluminense]

Por Henrique Moraes e Clarissa Cogo
20/08/2010

Exibição realizada na Polinter de Neves contou com a presença de três dos atores que participam do longa “400 contra 1”. Medida visa a facilitar a reintegração dos detentos na sociedade

O Filme “400 contra 1 – A História do Comando Vermelho” foi exibido pela primeira vez em uma carceragem, ontem, para cerca de 100 integrantes da facção que estão presos na base da Polinter, em Neves, São Gonçalo, que abriga 542 detentos em 11 celas. A iniciativa faz parte das novas medidas que passam a ser adotadas com a transferência da administração das penitenciárias, que deixará de ser gerida pela Polícia Civil e passará para a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado.
Participaram da exibição, que ocorreu em um salão da ala do refeitório da penitenciária, três dos atores que atuaram no filme, Lui Mendes, Jeferson Brasil e Jonathan Azevedo. Ainda estavam presentes um dos roteiristas do longa, Júlio Ludenir e o coordenador das bases da Polinter do Estado do Rio de Janeiro, Orlando Zaccone.
Segundo Zaccone, as medidas tomadas pela nova administração das penitenciárias, como a exibição do filme, prevêem a humanização dos presos.
"A medida visa a facilitar a reintegração dos detentos na sociedade de forma a serem reinseridos na comunidade quando saírem da cadeia”, disse o coordenador das bases da Polinter.
Dentre as determinações da nova administração das penitenciárias estão, também, além da disponibilidade de atividades culturais, como a exibição de filmes, a construção de salas de aulas para que os presos possam estudar ou ter ensaios de teatro, por exemplo. Há ainda o projeto de construção de salas de banho de sol seguras e ambulatórios.



Após a exibição, o roteirista Júlio Ludenir respondeu às críticas dadas a esse estilo de filme, que faria apologia ao crime, destacando a visão que o longa pretende mostrar.
“Ao contrário do que dizem, de que o filme faz apologia ao crime, o objetivo foi mostrar as más condições de um preso quando ele sai da cadeia”, afirmou Ludenir.
“O protagonista, Daniel de Oliveira, que interpreta um dos mentores da facção Comando Vermelho (CV), depois de passar 37 anos na prisão, saiu doente e muito mal. Quisemos trazer para os jovens, que talvez pensem no crime como uma alternativa, a lição de que o crime não compensa”, completou o roteirista.
Para o ator Lui Mendes, que interpretou o bandido Maranhão, a experiência de assistir ao filme do qual participou em uma carceragem foi muito gratificante e só completou seus trabalhos de filmagem.
“Para as filmagens já tínhamos visitado penitenciárias, mas assistir aqui com os detentos ratifica a mensagem social que o filme quis passar e nos faz vivenciar a experiência de sofrimento da rotina dos detentos que criamos no laboratório para o longa”, disse o ator.
Público aprova
Um dos detentos que assistiu ao filme na Polinter de Neves, Marco Luiz da Silva, de 27 anos, preso há seis meses por associação ao tráfico e tráfico de drogas, disse que iniciativas como essa demonstram interesse de parte da sociedade pela qualidade de vida dos presos.
“Nós, presos, sempre fomos esquecidos e agora isso mostra uma melhoria para nós”.
Na exibição do filme, estava também uma comitiva do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro e membros da ONG Rio da Paz. A organização não-governamental realiza quinzenalmente, normalmente aos sábados, mutirões de limpeza e saúde, disponibilizando atendimento dentário e médico aos detentos, bem como limpeza das celas.
Em cartaz - O filme “400 contra 1 – A História do Comando Vermelho” estreou na primeira semana de agosto e conta as origens da maior facção criminosa do país, o Comando Vermelho (CV). O longa-metragem mostra que criado a partir do lema paz, justiça e liberdade, o CV surgiu e começou a agir no presídio de Ilha Grande, Rio de Janeiro.
A história é contada por um dos mentores da facção, William da Silva Lima, interpretado pelo ator Daniel de Oliveira.

O Fluminense 

http://jornal.ofluminense.com.br/editorias/cidades/filme-sobre-origem-do-comando-vermelho-e-exibido-para-detentos-em-sg 
 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Daniel de Oliveira no ALTAS HORAS

Domingo passado, Daniel de Oliveira, protagonista do 400contra1, falou sobre o filme no programa Altas Horas! Assista abaixo:

Daniel de Oliveira no programa Altas Horas.
Imagens: Rede Globo.

domingo, 15 de agosto de 2010

"Violência Urbana" [ESTADO DE MINAS]

"VIOLÊNCIA URBANA
400 contra 1 usa a história do Comando Vermelho para abordar relações sociais e políticas atuais

MARCELLO CASTILHO AVELLAR
Sexta-feira, 6 de agostode 2010


Muita gente não sabe, mas sofre até hoje as sequelas de um dos mal feitos da ditadura que oprimiu o Brasil entre1964 e 1986: o crime organizado responsável por boa parte da violência urbana ao nosso redor é filho de uma das decisões incompetentes dos governos militares. Sem saber exatamente o que fazer com seus presos políticos e sem paciência para lidar com os criminosos comuns por meios tradicionais, a ditadura frequentemente acabou juntando uns e outros nos mesmos presídio se aplicando a todos o mesmo dispositivo legal – a famigerada Lei de Segurança Nacional. Entre as consequências perversas disso está o fato de que delinquentes que até então agiam individualmente ou se reuniam em pequenos grupos mais ou menos caóticos adquiriram conhecimentos de estratégia, tática, organização, disciplina, planejamento. 400 contra 1, dirigido por Caco Souza, é baseado no inspirado no livro homônimo e autobiográfico de William da Silva Lima – articulador do Comando Vermelho, uma das maiores organizações que nasceram daquele encontro entre prisioneiros há décadas.

No filme, William é interpretado por Daniel de Oliveira. O ator está se transformando no símbolo máximo dos rebeldes dos anos 1960, 70 e 80. Já foi Cazuza, Stuart Angel, Frei Betto – o anarquista que tenta fazer de sua própria vida a revolução e é vitimado pelas consequências dessa atitude em seu próprio corpo, o revolucionário que opta pela ação direta e acaba assassinado pela ditadura, o religioso que compactua com os rebeldes e conhece os porões da repressão por causa disso. William acrescenta uma nova faceta a essa multipersonagem: o homem cuja ação não é, inicialmente, conscientemente política ou ideológica, mas ao se politizar, torna-se ainda mais subversiva que a dos que se direcionam pela ideologia.



Clique para ver a reportagem completa.



400 contra 1 ganha ao se apropriar dessa imagem que o espectador de cinema tem de Daniel de Oliveira. Mas sua força vem, também, de outras fontes. Caco Souza é daqueles cineastas que aceitam a imagem “suja”, fora dos padrões assépticos da telenovela ou da grande produção americana. Transforma-a em metáfora da sujeira na sociedade que retrata. E faz isso dentro de uma estrutura temporal extremamente elaborada: seu filme é ágil na maneira como salta das origens do crime organizado num presidio durante os “anos de chumbo” da ditadura para o início dos anos 1980, a explosão das ações do Comando Vermelho. De brinde, sua reconstituição de época tem momentos preciosos: a perseguição de um fusquinha que leva criminosos por outro fusquinha, da polícia, por uma estrada, é exemplo brilhante de como um pequeno detalhe pode fazer diferença para definir todo um período. É mais um filme que tenta compreender a questão da violência no Brasil. Há quem não goste de ver o tema nas tela. Mas se considerarmos a importância que, segundo pesquisas, a população dá ao problema, não é surpreendente que a produção cinematográfica nacional se volte tanto para ele. Dentro dessa vertente, 400 contra 1, ocupa um espaço mais voltado para a conscientização do espectador que para a sensação. Não importa o quando o drama de suas personagens seja emocionante – há algo de épico (no sentido brechtiano) no filme. Quer nos ajudar a compreender o objeto de sua abordagem e, consequentemente, aproximar-nos de nosso mundo em suas relações sociais e políticas. E o Comando Vermelho é ótimo pretexto para esse processo. Não é uma organização, é um comportamento, uma forma de sobreviver”, nos diz William. Talvez o crime organizado tenha crescido exatamente porque soube propor um modelo para aquela sociedade brasileira não estava preparada – e, portanto, ao qual reagiu das maneiras que conhecia, inadequadas à nova questão."




quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"400 contra 1" [TELA BRASIL]


"400 contra 1 – uma história do crime organizado

Publicado em 05/08/2010

Por Aline Khoury (@aline_khoury)

Maniqueísmo é a palavra de ordem na maioria das conversas sobre crime. Simplesmente rotular e jogar no grande saco do vilão é a saída encontrada por quase todos – como se toda a complexidade dos seres humanos pudesse ser resumida apenas pelo binômio bom-mau. Em quantas salas de aula, reuniões de família ou mesmo mesas de bar não ouvimos a velha máxima “bandido bom é bandido morto”? Nenhuma história merece ser ouvida, já que depois de tocar em uma arma a vida de uma pessoa parece entrar em um caminho sem volta, condenando-a eternamente a carregar um estigma de que jamais se livrará, que a retira de uma vez por todas do mundo dos bons.

Com estética cativante, approach popular e os toques da espetacularização à la Guy Debord, os blockbusters da bandidagem tornam os mesmos criminosos simpáticos aos olhos desses mesmos críticos. Rodeado de notas de cem, montes de cocaínas e pernas de prostitutas, o chefe do bando ganha seus minutos de herói, a despeito de qualquer sangue derramado para chegar ali. Ganha também os momentos de vítima da sua dura realidade, de moleque boleiro que simplesmente não via outro caminho a seguir. Se no clássico Carandiru o clima tendia mais para este lado, com alguns tons de compaixão sobre os conturbados passados, 400 contra 1 – uma história do crime organizado parece se encaixar mais no primeiro perfil com seus bandidos bacanões.

A estréia do diretor Caco Souza em um longa surpreende pelas dimensões dignas de super produção – nomes fortes no elenco, planos sofisticados, seqüências de ação empolgantes, belos cenários. O filme narra a formação do Comando Vermelho, facção que surge no presídio de Ilha Grande no final dos anos 70 e até hoje assina homéricos assaltos no Rio de Janeiro. A inspiração central vem do livro homônimo de William da Silva Lima, um dos pouquíssimos sobreviventes da primeira geração do grupo. Ataques do bando são relembrados pelo vai e vem de uma cronologia confusa. Costuma ser interessante entremear flashbacks, contando partes futuras que só se encaixarão depois. Mas há certo abuso dessa ferramenta que quase força o espectador a anotar as datas em um bloquinho.

Embora não faltem cenas deprimentes da imundice e extrema fome que acompanharam metade de suas vidas ali, a imagem que fica de William e seus amigos vem dos instantes heróicos da breve liberdade, cenário de seus golpes magistrais. Entra aí a trilha musical como chave para montar este perfil do bandido pop. Nada mais apropriado, então, que funk e soul para embalar a caminhada estilosa de topete e óculos escuros. Em grande parte, a escolha triunfa por fugir do piegas da música trágica com o pianinho comovente, ou até do manjado samba de morro. Algumas cenas, porém, teriam combinado melhor com o próprio silêncio, pois perdem parte de sua brutalidade e crueza com a empolgação da trilha. Certas atitudes da gangue mereciam essa pausa para prolongar a indignação do espectador com sua frieza, permanecendo mais indigestas, entaladas na garganta.

Nos ataques do CV, o que mais surpreendia a polícia era a extrema organização, em parte herdada do contato com presos políticos durante a ditadura. Encarcerados sob a mesma lei, muitos marinheiros e sindicalistas passaram para os presos comuns alguns planejamentos e estratégias. Comunistas e intelectuais já não tinham a mesma afinidade com os prisioneiros, embora certas vezes lhes apresentassem livros e com eles aprendessem outras táticas de roubo.

Compartilhar a mesma rotina de privações extremas e torturas em série despertou nos grupos um impressionante senso de coletividade. Os laços criados ali superavam quaisquer outros de fora – cada membro que conseguia escapar não se satisfazia plenamente enquanto seu parceiro não conseguisse o mesmo. Ainda que libertar o colega significasse arriscar sua própria liberdade. Mas se a solidariedade inexplicável levou o grupo flertar com um ou outro tema da esquerda, aos poucos o individualismo foi contaminando esse ideal comunitário.

Para libertar os amigos ou simplesmente voltar a bancar a vida, todos os caminhos parecem indicar a reincidência no crime. Afinal, o que há para um bandido em uma sociedade que não abre portas para reescrever sua história? A partir deste ponto a atitude da advogada passa a ser um pouco mais compreensível. Na visão desta intelectual da alta classe, a justiça de certa forma deve algo àqueles criminosos, ainda que tenham ferido a própria justiça.

Aí é preciso se perguntar de qual justiça se fala. Ser justo para quem, e de acordo com quais princípios? Os membros do CV acreditavam que faziam tudo em nome da justiça – ao seu modo. Para quem a justiça oficial nunca fez muito sentido, uma postura assim não é tão surpreendente. Ilustra bem essa lógica a frase do ladrão William durante a separação entre os prisioneiros comuns e os perseguidos da ditadura: “Quem são os verdadeiros presos políticos?” Afinal, se tem alguém para quem a política realmente dá as costas é para os pardos da Silva.

Enquanto a política faz vista grossa, a polícia oculta para si sua fragilidade frente à tamanha organização já conquistada pelo crime. Nesse sentido, é genial o detalhe do rádio noticiando que “a polícia incendiou o apartamento do bandido”, revelando a tentativa da mídia para encobrir a impotência policial. Afinal, não pegaria nada bem admitir que um bandido sozinho não deu a 400 policiais a chance de ver seu sangue.

Quem procura uma novela de ação e assassinatos tem no filme a escolha certeira. Não espere uma reflexão da violência urbana, mas a história de um homem contada como entretenimento. Aqueles que quiserem refletir sobre esse caos devem preferir o verdadeiro William no documentário Senhora Liberdade - uma aula de sociologia, aprendida em 37 anos de clausura."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"'400 contra 1' retrata a origem do Comando Vermelho" [Portal LIMÃO]

"'400 contra 1' retrata a origem do Comando Vermelho


A Ditadura Militar no Brasil é tema recorrente no nosso cinema. As variações sobre o mesmo cenário são muitas e o interesse dos cineastas pelo período histórico, legítimo. Em "400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado", de Caco Souza, que estreia hoje em circuito nacional, a Ditadura é encarada sob uma nova ótica: daquela que, de certa forma, dá munição para que o Comando Vermelho (CV), famosa organização criminosa do Rio de Janeiro, tomasse corpo.

Trailer de 400 Contra 1

Inspirado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos principais articuladores da organização, "400 Contra 1" identifica, no presídio de Ilha Grande, o Caldeirão do Diabo, o nascedouro do CV. E mostra como a ocasião, literalmente, faz o ladrão: se os anos de chumbo não prevalecessem naquele momento e se o sistema carcerário brasileiro, de fato, reabilitasse os presos, talvez esse organismo criminoso nunca teria existido.

Na tela, William da Silva Lima é vivido pelo ator Daniel de Oliveira. Conhecido pela bandidagem como "professor", William é um assaltante de banco que, numa ação fracassada, é preso nos anos 1970. Entre seus comparsas, estão militantes políticos que se juntam ao bando para garantir o sustento.

Depois de capturados, um a um, são levados ao Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, onde deparam com uma situação incomum naquele verdadeiro inferno longe do continente. Lá, estão confinados também presos políticos que, em vez de serem cerrados em prisões especiais, são levados ao presídio. Esses militantes intelectualizados, chamados de pequena burguesia, se sentem humilhados e pedem para serem separados dos bandidos comuns. O tratamento diferenciado causa revolta.

Mesmo mantidos em alas distintas, presos políticos e comuns mantêm contatos esporádicos, porém suficientes para abastecer a bandidagem com literatura "subversiva" e técnicas de guerrilha. William, o mais perspicaz do grupo, se interessa por esse material. Aliado a isso, sua convivência com outros criminosos e com a lei do mais forte faz com que ele passe de bandido ambicioso à cabeça pensante de uma organização, que protagonizou grandes assaltos a bancos e deixou a polícia carioca em estado de alerta entre final dos anos 1970 e início dos 80. As informações são do Jornal da Tarde.

AE - 09h44, Sexta-feira, 06 de agosto de 2010 "
 
Retirado do site: http://noticias.limao.com.br/entretenimento/ent175525.shtm

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Paz, justiça e liberdade" - Entrevista com Caco Souza [GUIA DA SEMANA]

"Paz, justiça e liberdade
A trajetória que levou à criação do Comando Vermelho visto sob a ótica de seus fundadores ganha as telonas com o longa 400 contra 1
Por Leonardo Filomeno


Foto: Carolina Born.

Brasil, década de 70. Enquanto os militares instituíam a repressão e censura, muitos jovens eram encarcerados por expressarem suas opiniões políticas. Nas celas, o convívio com os presos comuns servia para unir os dois grupos perante as injustiças que o sistema penitenciário corroborava. Além dos presos comuns adquirirem respeito pela disciplina e companheirismo dos revolucionários de esquerda, aos poucos assumiram essas virtudes para montar o que seria a polêmica organização que controla até hoje o crime em muitas favelas do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho (CV).

Em cartaz a partir de 6 de agosto, o longa 400 contra 1 - Uma História do Crime Organizado é baseado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos principais fundadores do CV. A película aposta em cenas com truque de edição e ritmo dos videoclipes, aliando ao realismo documental para estrelar Daniel de Oliveira e Daniela Escobar a frente do elenco. Confira a entrevista do diretor Caco Souza, que conta suas principais impressões em seu primeiro longa-metragem.

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de falar de um tema tão polêmico como esse, sobre a origem do Comando Vermelho?

Souza: Fiz há algum tempo um trabalho como documentarista de curtas sobre o assunto e queria montar meu primeiro longa baseado em uma história real. Fui atrás do tema ditadura e exílio - uma coisa que queria contar -, mas o livro do William me chamou mais a atenção por essa consciência do coletivo, da postura política, enquanto aconteciam coisas importantes no país, a formação desse grupo era uma delas.

Guia da Semana: Você não teve receio de mexer com essa temática e fazer apologia ao crime?

Souza: É lógico que o tema é complicado, mas a nosso objetivo era falar da origem de um grupo que não é o Comando Vermelho de hoje, que trafica drogas e prega essa violência. Estamos falando de um grupo que surgiu de assaltantes de bancos na década de 70. O que vem depois está fora do alcance do filme e do meu interesse.

Guia da Semana: Esse é seu primeiro longa metragem, você que trabalhou fazendo documentários e peças publicitárias. Quais as principais diferenças que sentiu nesse novo projeto?

Souza: A diferença é contar a história de uma maneira grande, sem ficar cansativo. Então você tem que saber como amarrar isso, ter um cuidado com o fator histórico, mostrar a violência, ao mesmo tempo em que faz recortes estéticos crus, mais próximos e mais impactante para a narrativa. O desafio era trabalhar com histórias rápidas, em uma linguagem menos cadenciada. Unir essa estética do cinema com o documentário, que rende boas histórias, conteúdo, procurar amarrar as duas coisas e ver no que dá.
 
Foto: Daniel Chiacos.

Guia da Semana: No filme, você usa cenas recheadas de referências pop, como no ritmo, trilha sonora e até a edição, com trejeitos de Quentin Tarantino. Essa foi sua ideia?


Souza: Sempre quis fazer um filme Pop - mas pop no sentido de popular, não pop como uma coisa gratuita, tentando parecer com outros filmes. O funk e soul, que estavam na trilha marcadíssima do Max de Castro e muito forte nos anos 70, não foi uma coisa gratuita. Achei que ajudou muito para fugir daquele clichê dos anos 70, de unir carioca, morro e samba. Não tenho nada contra samba, adoro, mas a gente não queria estereotipar. Tínhamos uma cena funk e soul muito legal nessa época e, se não preservar, daqui a pouco ninguém mais vai saber quem era Tim Maia, já que Gérson King Kong ninguém fala mais, a não ser algumas pessoas dos bailes funks do Rio de Janeiro.
Guia da Semana: De certa forma, a união dos presos políticos com os comuns em Ilha Grande resultou no surgimento de ideais que culminariam no CV. Como você vê esse desenrolar da história?

Souza: Tem até um relato do William que fala sobre isso. Ele comenta que a convivência dos presos políticos com os comuns é uma coisa que acontece a mais tempo, desde a época de Vargas, no Estado Novo. Lá eles começaram a difundir o hábito de leitura e aquela coisa toda. Nos anos 70, logo após o golpe, jornalistas, marinheiros e sargentos foram presos e levados para o presídio Lemos de Brito, onde os contatos foram mais intensos, com formação de leitura, grupos de estudo, biblioteca organizada, trabalhos manuais - tudo isso em um tempo em que não existia separação.

Guia da Semana: E quando ocorreu essa separação?

Souza: Essa separação aconteceu nos anos 80, com a lei de Segurança Nacional. É claro que, durante todo esse tempo houve uma troca de experiência entre eles, mas não é determinante você apontar que eles ensinaram técnicas de guerrilha, de resistência. Foi uma troca de ambos os lados e tinha a coisa de conduta, de organização de grupo, coletivo, da união fazer a diferença. Fica claro que essa troca de experiência e convivência fortaleceu esse grupo, a única forma de resistência que eles poderiam colocar ali dentro. O que vem depois já extrapola a nossa história. Aquele é um momento isolado, pelo fato dos maus tratos, torturas e repressão. Não era só a pressão do sistema carcerário, era a pressão dos quadrilheiros do próprio presídio. Então os presos encontraram uma maneira de se diferenciar, formando um coletivo para enfrentar a ditadura e os inimigos de dentro do próprio presídio.

Guia da Semana: Para realizar o filme, você manteve contato com William, autor da biografia que inspirou o longa. Conte como foi essa relação?

Souza: Sempre foi muito tranqüilo, desde a primeira vez que fui no presídio do Bangu 3, com autorização da Secretaria de Assuntos Penitenciários, do Rio. O William sempre esteve muito consciente da importância dele para a organização, que suas histórias e relatos pessoais eram fundamentais para a realização do filme. Tinha muito material de pesquisa e, cada vez que voltava para a prisão, checava com ele, discutia e conversava, no sentido de engrossar a história para transformar o personagem principal em um cara mais humano, nem um herói e nem um vilão. Minha preocupação era - apesar do filme ser em primeira pessoa - ser o mais isento possível.
 
Foto: Daniel Chiacos.
 
Guia da Semana: E em relação aos nomes dos personagens, você usou os reais ou preservou a identidade?


Souza: Tirando o próprio William, e o PC (Paulo César Chaves) que nos autorizaram a citar os nomes, os outros presos foram preservados. Como muitos morreram e não tínhamos contato com as famílias, preferimos omitir e não entrar em nenhum tipo de confusão. Muitas vezes agregamos duas ou três pessoas em um personagem só, porque eram muitas pessoas que participaram da história.

Guia da Semana: Você teve muitas dificuldades até chegar ao nome do Daniel Oliveira para protagonista?

Souza: A gente queria o Daniel desde a escolha da história. Como sabíamos que iríamos contar a história dos anos 70/80, escolhemos pelo vigor, pelo seu modo de atuação, pelo entendimento que ele tem dos personagens. Para mim, ele era o cara!

Guia da Semana: William Lima chegou a ver o filme montado?

Souza: Não. Está foragido desde 2008 e perdemos o contato. Espero que ele assista, mas como ele vai assistir, só Deus sabe. A última vez que tive contato foi em 2006, quando produzi o Resistir, o documentário que fiz com ele, Alípio e André Borges, o último um preso comum.

Guia da Semana: Você acha que o Comando Vermelho mudou muito suas características, desde o seu surgimento para cá?

Souza: Assim como a sociedade de uma maneira geral, mudou demais. A gente passou de um momento em que as pessoas acreditavam que o mundo poderia ser comunista, para um mundo totalmente capitalista. Então é uma coisa que você repara até no crime. No filme, por exemplo, mostra que o crime da época tinha divisão igualitária do dinheiro, mas agora o tráfico funciona como uma empresa, com os chefes, funcionários que ganham de acordo com a sua função, com salário mesmo. Transformou-se em uma empresa do sistema capitalista."


Retirado do site: http://www.guiadasemana.com.br/Sao_Paulo/Cinema/Noticia/Paz_justica_e_liberdade.aspx?id=66410