segunda-feira, 22 de março de 2010

Saiu no UOL

"400 contra 1" procura originalidade ao contar história de líder do Comando Vermelho


ALYSSON OLIVEIRA
Especial para o UOL, do Cineweb


Cena do filme "400 Contra 1", de Caco Souza, que traz o ator Daniel de Oliveira (à dir.) como o líder da organização criminosa Comando Vermelho

Estreando na direção de longas de ficção, o documentarista Caco Souza sabia que estava andando num terreno perigoso ao fazer “400 contra 1 – Uma história do comando vermelho”, previsto para estrear nos cinemas no começo de maio. O longa fala sobre o líder do Comando Vermelho no final dos anos de 1970, William da Silva Lima. “O que me levou a fazer esse filme foi a curiosidade para entender o grupo, a dinâmica de como essas coisas funcionam”, disse ao UOL Cinema, um dia antes de viajar para o Chile, onde finaliza a pós-produção.

Apesar dos vários filmes sobre bandidos, presídios e presidiários que foram feitos no Brasil nos últimos anos, Souza afirma que “400 contra 1” traz um diferencial. “Essa é a história de um homem, não de um coletivo, como em ‘Carandiru’ [2003], por exemplo. Aqui, falo da vida do William nesse momento, e, consequentemente, do Brasil daquela época, que se reflete no país de agora”.

Conforme explica o diretor, o Comando Vermelho nasceu num período em que existiam presos políticos e estes ficavam junto dos presos comuns. “Tanto quem assaltou um banco quanto aqueles considerados subversivos ficavam nas mesmas celas. A união deles permitiu reivindicações de seus direitos”.

Para ser fiel à história, Souza começou o filme a partir da adaptação da biografia homônima de William. Mas não parou por aí. Para se aprofundar na vida do seu personagem, o cineasta visitou-o algumas vezes. Desse contato, resultaram dois curtas: “Sra. Liberdade” (2004) e “Resistir” (2007), que foram filmados quando William estava no presídio Ary Franco, em 2004.

Souza explica que foram necessários alguns encontros com William, que começaram a ocorrer em 2004, quando ele estava no Presídio de Bangu (RJ), antes que ele aceitasse vender os direitos de sua história. “Ele queria me conhecer, sentir confiança em mim antes de aceitar o filme.” Quando chegou ao presídio, William se mostrou bastante receptivo com o diretor e empolgado com a possibilidade da adaptação. “Ele me contou que sempre sonhou que sua vida virasse um filme”.

No longa, Daniel de Oliveira (“Cazuza – O tempo não para”) interpreta William. Souza conta que a escolha do ator foi um processo bastante natural. “A gente se conhecia há muito tempo, quando o dirigi num filme publicitário. Depois, ficamos vários anos sem nos vermos. Ele estreou no cinema, tornou-se um sucesso. Quando comecei a pensar no filme, não tive dúvidas: o Daniel era a única pessoa que eu queria para fazer o William”. O diretor acrescenta que o ator, por conta disso, esteve envolvido com o filme desde o comecinho, e isso ajudou aos dois no processo.

Já para o principal papel feminino, Tereza, o diretor chamou a atriz Daniela Escobar (“Jogo Subterrâneo”). “As pessoas vão se surpreender, pois estão acostumadas a vê-la interpretando mulheres ricas e sofisticadas e aqui ela está bem diferente.” O elenco ainda conta com Branca Messina (“Não por acaso”), Lui Mendes (“Show de Bola”), Felipe Kannenberg (“A mulher invisível”), além da cantora Negra Li (“Antônia”).

Fora os atores profissionais, “400 contra 1” conta com a participação de 70 presos da Colônia Penal Agrícola do Paraná, que serviu de locação para várias cenas do filme. “A preparação do elenco ocorreu lá também, para ajudar a entrar no clima. O trabalho com os presos foi muito legal. E, assim que o filme estiver pronto, estou planejando fazer uma sessão para eles”.

Na parte técnica, Souza procurou cercar-se de alguns dos melhores profissionais de cada área. A direção de fotografia é de Rodolfo Sanchez (“Pixote”) e o roteiro de Victor Navas (“Cabra Cega”, “Carandiru”), com a colaboração e di escritor Julio Ludemir, autor do livro “Sorria, você está na Rocinha”.

Para a trilha sonora, Souza convidou o músico Max de Castro. “Eu admiro a capacidade de arranjo das músicas. Pensamos numa trilha com uma pegada mais pop, para fugir do estereótipo samba e morro. Acredito que a soul music e o funk trarão mais força para o filme”.

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