sexta-feira, 23 de julho de 2010

400contra1 no Festival de Paulínia [PORTAL G1]

23/07/2010 08h15 - Atualizado em 23/07/2010 08h15

'400 contra 1' tenta fazer registro pop do crime organizado no Brasil
Filme conta a história de facção criminosa que comanda o tráfico no RJ. Dirigido por Caco Souza, longa teve sessão première no festival de Paulínia.
Dolores Orosco Do G1, em Paulínia


Um filme sobre a história da maior facção criminosa do país, baseado na autobiografia de um de seus fundadores, com cenas recheadas de referências pop – do ritmo dos videoclipes aos truques de edição de Quentin Tarantino. Esse foi o caminho escolhido pelo diretor Caco Souza em seu “400 contra 1”, que teve première na noite de quinta-feira (22), no encerramento do Paulínia Festival de Cinema.

O longa traz o ator Daniel de Oliveira como Willian da Silva Lima, um dos mentores do grupo criminoso que há mais de 40 anos comanda o tráfico de drogas no Rio de Janeiro. Ex-assaltante de bancos que cumpriu pena de 37 anos, ele é o autor do livro “Quatrocentos contra um”, que narra o nascimento da quadrilha, à partir do encontro de presos políticos da ditadura com detentos comuns no presídio de Ilha Grande, na década de 70.

“Fizemos uma pesquisa histórica do material da época para entender até que ponto as estratégias dos grupos de esquerda influenciaram os presos comuns na cadeia”, explicou Caco. “O que a bandidagem da época assimilou foi a noção de coletividade, disciplina e organização. Coisa que até então eles desconheciam e que passaram a adotar em nome do crime”.

O ator Daniel Oliveira durante a sessão de '400 contra 1', em Paulínia. (Foto: Divulgação)

A autobiografia de Lima foi o ponto de partida para que Daniel compusesse o personagem. “Ler o livro foi o começo de tudo. Não tem pesquisa mais rica do que ver a escrita, a maneira como ele se expressa, as palavras que escolhe”.

Lições em penitenciária

Daniel e outros atores que interpretam bandidos no filme, como Fabrício Boliveira e Lui Mendes, também frequentaram a penitenciária agrícola do Paraná. Grande parte das cenas de “400 contra 1” tem celas como cenário e foram rodadas no presídio do Ahu, em Curitiba.

“A troca de ideias com a rapaziada de lá foi muito interessante. Ouvimos histórias de vida, como entraram para o crime, como é o cotidiano daqueles que tem uma sentença a cumprir”, conta Daniel. “Tudo isso ajudou na transformação para o personagem”.

No entanto, ninguém aparece mais “transformado” em cena que Daniela Escobar. Para interpretar Tereza – amante e parceira de William no crime – a atriz engordou 10 quilos e pintou o cabelo de um loiro desbotado.

“Isso foi ideia de um diretor de visão, que enxergou o potencial da atriz muito além do que uma imagem já formada”, opinou Daniela, acostumada a interpretar dondocas sofisticadas em novelas.

Daniel Oliveira, Daniela Escobar e Fabrício Boliveira em cena de '400 contra 1'Daniel Oliveira, Daniela Escobar e Fabrício Boliveira em cena de '400 contra 1' (Foto: Divulgação [Daniel Chiacos])

“A Dani ficou uma loira bagaceira, irreconhecível”, opinou Caco. “Mas essa mudança foi essencial, ela está brilhante em cena”.

A cantora Negra Li integra o elenco como Geni, mulher de um dos fundadores da facção criminosa. No entanto, apresentada como "participação especial" nos créditos do longa, ela tem uma única fala e aparece em pouquíssimas cenas.

Mocinho ou bandido?

Colagens de cenas breves, mas cheias de ação. O companheirismo e bom humor entre a “malandragem” na cadeia. A ascenção do crime organizado embalado músicas que remetem a Isaac Hayes e Tim Maia - a trilha é assinada por Max de Castro. “400 contra 1” tem a proposta arriscada de dar um “tempero pop” aos líderes da facção que até hoje promovem crimes no país e fogem do controle da Polícia.

“Acredito que o filme não trata o William como um herói. Até porque ele é apenas um dos fundadores do bando, meu personagem não é o protagonista. Esse foi um recurso inteligente do Caco para que o William não fosse alvo de todas as atenções e virasse herói do filme”, defende Daniel.

Apesar de preferir “não julgar”, Caco faz sua análise das ações do crime organizado no Brasil. “Se as raízes foram o comunismo e a coletividade, hoje o que impera é o individualismo. Veja o tráfico, por exemplo. Existe o patrão, os funcionários da boca de fumo, aqueles que compram a droga... Isso é pura lógica capitalista”.

Exibido fora de competição em Paulínia, "400 contra 1" chega aos cinemas no dia 6 de agosto.

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