terça-feira, 8 de junho de 2010

O Liberal

Comando Vermelho na telona
Edição de 07/06/2010

Filme de Caco Souza, que falou sobre a produção ao Magazine, narra a história pela visão de um dos fundadores do grupo

Alexandra Cavalcanti
Da Redação [Jornal O Liberal]


O cineasta Caco Souza lançará seu primeiro longa - metragem, '400 contra 1 - a história do Comando Vermelho', uma produção da Destiny International, em parceria com a Globo Filmes, distribuído pela Playarte Pictures. O elenco conta com Daniel de Oliveira e Daniela Scobar nos papeis principais. A pré-estreia será dia 26 de julho, no Rio de Janeiro e em São Paulo. A estreia nacional será dia 6 de agosto.

O filme conta a história da origem do Comando Vermelho, inspirado no livro '400 contra 1', de William da Silva Lima, um dos remanescentes do grupo, fundador do 'Comando'. Caco Souza, diretor, leu a obra em 2002 e se impressionou. 'O que chamou mais atenção foi o início da história [do Comando Vermelho]'.


O diretor Caco Souza. Foto: Camila Lima.

Este é o primeiro longa-metragem do cineasta, que se diz curioso sobre realidades tão próximas a ele como a violência e o sistema carcerário - seus assuntos favoritos - que afetam o convívio social. 'A minha história como cineasta começa com documentário'. Caco dirigiu e co-dirigiu seis filmes, entre curta e média-metragens. Ao decidir filmar o primeiro longa, quis tratar sobre um fato verídico e escolheu contar a história do Comando Vermelho, a partir do testemunho de William.
Gravado ano passado, o filme teve como cenário uma casa penal semelhante ao Presídio Cândido Mendes - local onde surgiu o Comando Vermelho -, demolido na década de 1990. Atualmente, o longa está em fase de finalização. Segundo o diretor, '400 contra 1' promete polêmica. O ator Daniel de Oliveira interpreta William da Silva Lima, um dos fundadores do 'CV'. Daniela Scobar é Teresa, a mulher com quem William viveu uma paixão intensa. No elenco ainda estão Negra Li, Jonathan Azevedo, Fabrício Boliveira e alguns ex-detentos. O filme retrata o contexto político do Brasil da década de 1970. Segundo o diretor, mostra a ditadura militar de uma forma inusitada. Para construir a narrativa, a produção realizou uma pesquisa histórica minuciosa. Entre as fontes estão artigos publicados na imprensa, fotografias, livros autobiográficos e depoimentos de pessoas que conviveram no presídio Cândido Mendes.

Quadrilha surgiu nas celas

Década de 1970, ditadura militar. No presídio Cândido Mendes, em Ilha Grande (RJ), surgiu um grupo organizado com o objetivo de proteger os presos do Presídio Cândido Mendes. William da Silva Lima é um dos fundadores do Comando Vermelho, a quadrilha de assaltantes de banco. O dinheiro roubado, gastaram com diversão e ajudaram comunidades pobres onde moravam, entre elas, a do Morro da Providência.

Segundo Caco, foi o assalto a um banco que sentenciou o bando de William, preso à época da ditadura. O crime constava na Lei de Segurança Nacional, que definiu as condutas que atentavam contra a 'segurança' do Brasil, durante o regime militar. O assalto a banco financiou ações de militâncias políticas contra o regime militar. Por este motivo, a lei previu tratamento diferente para militantes contrários à ditadura e teve como objetivo inibir rebeliões contra os militares. Os presos políticos e outros que praticassem os crimes da 'LSN' ficaram reclusos no 'Fundão', área do presídio de Ilha Grande. Não tinham direito a banho de sol e não dispunham de comida e roupas suficientes.

Caco explicou que a Lei da Anistia libertou os presos políticos e colocou o bando de William e outros criminosos presos pela 'LSN' em convívio com presos comuns. A 'tensão' definiu bem o novo ambiente carcerário. O convívio com os presos políticos fez os criminosos da 'LSN' aprenderem um pouco sobre companheirismo, cumplicidade e disciplina, que tentaram instituir no Presídio Cândido Mendes, tudo para garantir a harmonia entre os criminosos. Os presos comuns resistiram. Como consequência, a 'Falange LSN', apelido do bando de William, entrou em confronto violento que culminou com a morte de seis lideranças da 'Falange Jacaré', hoje conhecida como 'Terceiro Comando', uma das quadrilhas mais influentes do presídio, formada por moradores da favela do Jacarezinho.

Segundo Caco, o então diretor da casa penal, conhecido como 'Salmon', escreveu um relatório no qual identificou a 'Falange LSN' como a 'Falange Vermelha' e 'Comando Vermelho', em menção à cor que simbolizava os militantes contrários à ditadura militar. 'O grupo do William rechaçava esse nome, mas a imprensa continuou os chamando assim e eles assumiram o nome', contou.

O Comando Vermelho assumiu o controle do Presídio Cândido Mendes. Caco explica que, na época, os direitos humanos eram desrespeitados e os presos se alimentavam mal, careciam de roupas, não tinham remédios e eram constantemente agredidos por agentes penitenciários. '[O Comando Vermelho] começou com a ideia de se fortalecer no presídio, como uma forma de resistência ao sistema que tinha uma mão extremamente pesada', explicou.

Ainda presos, os membros do CV começaram a se organizar para, em liberdade, montarem um caixa com dinheiro que financiasse a compra de gêneros alimentícios, roupas, remédios e outras mercadorias necessárias aos presos. O 'CV' também articulou fugas. Segundo Caco, a partir da década de 1980, os membros fundadores do 'Comando' morreram ou desapareceram. Entre os remanescentes, William e mais dois homens. 'Falamos [no filme] sobre um movimento que começou na década de 1970 e em 2010 está mais forte do que antes', observou.

Para Caco, o perfil desses criminosos presos há 40 anos é muito diferente dos criminosos de hoje. Naquela época, a quadrilha assaltou bancos para gastar o dinheiro aleatoriamente e para financiar as atividades da militância - no caso dos presos políticos. 'Quando entra o tráfico de drogas, tem uma cultura mais empresarial', pontuou. As pesquisas para a produção de suas obras que tratam sobre a criminalidade o levou a uma percepção: a falta de escolas, emprego, saneamento e condições adversas de vida estimulam a violência. 'Todo mundo quer ter poder, quer um carro bacana. Só que o meio [dos criminosos] de se conseguir isso é ilícito'.


Clique para visualizar a página da reportagem.

Nenhum comentário: