segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Estado de Minas

Reportagem no site do jornal O Estado de Minas, no link:

http://www.new.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_8/2009/02/11/ficha_cinema/id_sessao=8&id_noticia=7561/ficha_cinema.shtml


Filme desfaz mitos sobre o Comando Vermelho

400 contra 1 - Uma história do Comando Vermelho tem Daniel de Oliveira e Daniela Escobar no elenco


Marina Bottega/Divulgação
Uma "caiçara desglamourizada", na opinião do diretor, Daniela Escobar interpreta a namorada do bandido William da Silva Lima, autor do livro que deu origem ao filme

Quatrocentos contra um. A covardia é tanta, que parece ficção. O episódio é real e envolve o bandido Zé Bigode, que enfrentou sozinho o cerco de 400 policiais, durante mais de 12 horas, num morro do Rio. Do fato nasceu o nome do filme, que vai contar a história do Comando Vermelho, poderosa organização criminosa do país, criada no Instituto Penal Cândido Mendes, o Presídio da Ilha Grande, no auge da ditadura militar. No comando, William da Silva Lima, não por acaso amigo de Zé Bigode e que teria sido obrigado pela polícia a assistir ao cerco. A explosiva fórmula presos políticos presos comuns, na Galeria B de Ilha Grande, a partir de 1974, criou, por um lado, uma relação de respeito e admiração dos presos comuns com a disciplina, organização e companheirismo dos revolucionários de esquerda. E, por outro, culminou em clima de tensão crescente até detonar uma tragédia, que agora será contada no cinema.

Veja fotos das gravações de 400 contra 1

400 contra 1 – Uma história do Comando Vermelho começou a ser rodado em 25 de janeiro. Terá locações em Curitiba (na Prisão Provisória do Ahú, desativada desde 2006, onde a equipe está esta semana), na Ilha Grande e no Rio. A previsão de estreia do filme é para o fim do ano. O diretor Caco Souza tem experiência em obras publicitárias e documentários. Entre eles, Senhora liberdade, com o próprio William da Silva Lima, “curta que foi um balão-de-ensaio, pois pude colocar em imagens as conversas que tinha com ele desde Bangu 3, quando começamos a travar contato”, conta o cineasta, que, interessado pelo tema, em 2002 deparou-se com a autobiografia de William da Silva Lima.
Ana Carolina de M. D. Maciel/Divulgação

Fabrício Bolivera e Daniel de Oliveira, no papel do criador do Comando Vermelho

“Percebi que o filme estava ali. Era o relato de um preso comum (assaltante de bancos), que durante a ditadura foi condenado pela Lei de Segurança Nacional, o que fez com que cumprisse pena junto a presos políticos no Presídio Cândido Mendes. Essa convivência entre presos políticos e comuns foi muito controversa e espetacularizada. A imprensa da época passou a relacionar o nascimento do Comando Vermelho, então denominado Falange Vermelha, com as táticas de guerrilha que teriam sido ensinadas a eles pelos presos políticos”, explica Caco Souza, que garante: “Não foi bem assim”. A pesquisa realizada para o longa (pela historiadora Ana Carolina de M. D. Maciel) lhe deu subsídios para que, “no primeiro ‘ação’, tivesse a certeza do enredo a ser contado”.

Escola

Caco Souza lembra que os presos da lei (como se autodenominavam) observaram atentamente a organização dos presos políticos. E passaram a adotar práticas de solidariedade entre eles, “o que gerou a conscientização do coletivo e de que juntos seriam mais fortes para resistir aos desmandos do sistema prisional durante a ditadura militar (torturas, péssimas condições, falta de acesso a tratamentos médicos, ausência de oficinas de trabalho etc.)”. Os presos políticos organizaram uma escola dentro do presídio e emprestavam livros aos presos comuns. Mas Caco Souza salienta que isso não significa que eles tenham ensinado os presos a assaltar. “Acredito que o maior saldo dessa convivência foi a noção de que, organizados, os presos comuns poderiam conquistar reivindicações que, isoladamente, não conseguiriam”.

Leia entrevista com Caco Souza

O diretor de 400 contra 1 afirma que essa organização entre os presos comuns, iniciada nos anos 1970 como forma de resistência, “é hoje um dos maiores expoentes do crime organizado”. E contabiliza: “Para que o atual Comando Vermelho se tornasse o que é hoje foram quatro décadas de exclusão econômica e social e um crescente consumo das drogas. Não temos apenas culpados e inocentes nesse percurso.” A proposta do filme é gerar reflexão sobre a gênese do Comando Vermelho em outra vertente, “não maniqueísta e não imediatista. A escravidão foi abolida, mas gerou imensa massa de excluídos. Nos morros cariocas, a maioria da população é negra. Isso é por acaso? Por que um jovem habitante do morro ou favela não deve admirar e se pautar pelo comportamento dos chefões do tráfico? Que outra perspectiva ele teria? Como entender o grave problema do crime organizado no Brasil sem conhecer as suas origens?”

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