sexta-feira, 27 de agosto de 2010

400contra 1. Uma História do Crime Organizado: exibição e debate na Universidade de São Paulo



Há 9 anos o filósofo Paulo Arantes coordena um círculo de debates quinzenais no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo. 

Com temáticas variadas os seminários englobam assuntos de interesse político, social e/ou estético. 

Na próxima quarta feira (dia 01 de setembro às 19.30) o longa metragem 400contra 1. Uma História do Crime Organizado, os documentários Senhora Liberdade e Resistir dirigidos por Caco Souza, serão exibidos e debatidos no âmbito do seminário. O evento é aberto ao público.

Endereço: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Departamento de Filosofia, sala 103.
Av. Prof. Luciano Gualberto, 315
Butantã. São Paulo

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

"400 CONTRA1 - Uma História do Crime Organizado" completou três semanas em cartaz!!

E está no ranking dos 10 filmes mais vistos no Brasil!!

Confiram no link: http://entretenimento.br.msn.com/cinema/artigo-adorocinema.aspx?cp-documentid=25342715

Agradecemos a todos os espectadores que nos possibilitaram essa conquista e convocamos os futuros!

Estamos em exibição nas seguintes cidades:

Anápolis
Angra dos Reis
Aracaju
Belém
Belo Horizonte
Blumenau
Brasília
Campinas
Criciúma
Curitiba
Diadema
Florianópolis
Fortaleza
Goiânia
Guararapes
Guarulhos
Joinville
Juiz de Fora
Manaus
Niterói
Nova Friburgo
Osasco
Palhoça
Recife   
Ribeirão Preto
Rio de Janeiro
Salvador
Santo André
Santos
São Bernardo do Campo
São Gonçalo
São João de Meriti
São José dos Campos
São Paulo
São Vicente
Tubarão
Vila Velha
Vitória
Volta Redonda

400CONTRA1 em São Carlos

Nesta quinta-feira o filme "400CONTRA1 - Uma História do Crime Organizado" será exibido na cidade de São Carlos, dentro da programação da Semana da América Latina - 2010, que acontece na cidade.

Confiram o link: http://www.culturaproex.ufscar.br/semana-da-america-latina-2010

400CONTRA1 no Extra Online

William da Silva Lima virou estrela de cinema em '400 contra 1'


Luis Alvarenga

Instituto Penal Cândido Mendes, Ilha Grande, década de 1970. Carceragem da Polinter, São Gonçalo, 2010. Quarenta anos separam os presos de cada uma dessas unidades. Desde o surgimento das facções que comandam o tráfico de drogas nas favelas aos dias de hoje, muitos gatilhos foram apertados. Na parede branca do salão de visitas da carceragem de Neves, um projetor revelou as origens da guerra do Rio para cerca de 80 presos, na última quinta-feira.

Sentados em bancos de cimento ou no chão, os detentos assistiram ao filme "400 contra um". No escuro, algumas pontas vermelhas de cigarro e fumaça. No início, silêncio. Personagem principal do filme, William da Silva Lima, o Professor, ajudou a criar uma das principais organizações criminosas do Rio. Da mistura entre presos comuns e presos políticos, enquadrados na Lei de Segurança Nacional durante a ditadura militar, surgiu a facção da qual esses detentos dizem fazer parte.

William da Silva, hoje com 68 anos, está foragido desde 14 de maio de 2006. Tinha direito a uma visita periódica ao lar, mas não voltou. Passou mais de 30 anos na cadeia, entre idas e vindas. Na sua ficha policial, assaltos a banco, extorsão, sequestro e receptação.

Espécie de representante dos presos, redigia petições para os detentos e cartas para autoridades, quando estava na Ilha Grande. Foi lá que conheceu sua mulher, Simone, mãe de três filhos seus.

William da Silva leu alguns livros enquanto esteve na cadeia, um de seus favoritos era "Capitães da Areia", de Jorge Amado. Também escreveu "400 contra um", em 1991, espécie de autobiogafia sua e do crime organizado, que deu origem ao filme. Vendeu os direitos da obra para o cinema e teve alguns contatos com a produção enquanto estava preso.

O título "400 contra um" é uma referência ao cerco policial que resultou na morte do assaltante José Jorge Saldanha, o Zé Bigode, na década de 80, na Ilha do Governador. Foram 12 horas de tiroteio intenso e cerca de quatro centenas de policiais mobilizados.

Luis Alvarenga 

50 novos detidos por dia no estado

A vida do criminoso na tela chama a atenção dos presos. As imagens de dentro do presídio da Ilha Grande geram identificação. Comentários e risos são ouvidos na sala de cinema improvisada. Nos trechos menos turbulentos, ouve-se o burburinho de quem ficou na carceragem. Ao todo, são 542 presos em Neves, sendo 234 da facção retratada no filme. O restante pertence ao chamado seguro — criminosos que não podem ser misturados com os da primeira ala. Por dia, cerca de 50 novos presos chegam para engrossar as estatísticas da Polinter no estado.

— O sistema prisional da década de 70 é uma realidade não muito diferente do de 2010 — diz o delegado Orlando Zaccone, da Polinter.

Roteirista nega apologia ao crime

Ainda que o filme mostre maus-tratos e revolta como parte da vida de William da Silva na cadeia, a Secretária de Administração Penitenciária informou que "no prontuário do detento não consta nenhuma falta disciplinar". Quase dois meses depois de fugir, no dia 07 de julho de 2006, foi expedido um mando de prisão contra ele. Seu paradeiro é hoje uma incógnita. O roteirista Júlio Ludemir diz que seria interessante ouvir o parecer dele sobre sua adaptação.

— Gostaria muito de saber a opinião dele sobre o filme — conta o escritor, que rebate quem diz que o filme faz apologia ao crime: — Se fosse assim não teríamos filmes como "O Poderoso Chefão". Falar do crime do pobre não é permitido.

 (http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/posts/2010/08/21/william-da-silva-lima-virou-estrela-de-cinema-em-400-contra-1-317933.asp)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Três momentos do crime em três tomadas

Na edição do mês de agosto da revista Brasileiros, o filme 400CONTRA1 está na matéria sobre produções cinematográficas que falam sobre o crime no Brasil em diferentes fases.



O texto é de César Alves e pode ser conferido na íntegra aqui.

Segue abaixo o trecho do texto que fala do filme:

"Organizando para desorganizar
Também protagonizado por Daniel de Oliveira e com base em uma autobiografia - a de William da Silva Lima, um dos fundadores do Comando Vermelho -, estreia em 6 de agosto, 400 contra 1, filme de Caco Souza. Tendo como subtítulo Uma História do Crime Organizado, a produção é representativa da fase de organização do crime no País. Estamos no Rio de Janeiro, em 1974, em plena ditadura militar quando, tanto presos políticos quanto assaltantes de banco comuns, eram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e cumpriam pena no Presídio Cândido Mendes, na Ilha Grande. William fazia parte da massa carcerária e assistiu à chegada dos presos políticos. Foi um dos primeiros a perceber a solidariedade entre eles e a se dar conta de que juntos e organizados - ele e seus companheiros - poderiam obter melhores resultados de tratamento humanitário.

Contrariando a tese, de que os "comunistas" teriam ensinado técnicas de guerrilha aos criminosos, o depoimento de William deixa claro que a única colaboração foi a de abrir suas mentes para o conceito de coletividade. Logo, começaram a se organizar em falanges internas - a organização, no início, era conhecida por Falange Vermelha - e, os que saíam, a promover a organização externa. No início da década de 1980, o CV já infernizava a vida da Polícia Militar carioca, promovendo assaltos e fugas espetaculares. A tomada dos morros e o domínio do tráfico de drogas são as etapas seguintes. O título, 400 contra 1, remete ao cerco realizado por 400 policiais para capturar um único fugitivo, Zé Bigode, amigo de William e também um dos fundadores da organização. Bigode resistiu por 12 horas, sendo morto pelos policiais ao final do confronto.
"

Presos de SG assistem a filme sobre o Comando Vermelho [O Fluminense]

Por Henrique Moraes e Clarissa Cogo
20/08/2010

Exibição realizada na Polinter de Neves contou com a presença de três dos atores que participam do longa “400 contra 1”. Medida visa a facilitar a reintegração dos detentos na sociedade

O Filme “400 contra 1 – A História do Comando Vermelho” foi exibido pela primeira vez em uma carceragem, ontem, para cerca de 100 integrantes da facção que estão presos na base da Polinter, em Neves, São Gonçalo, que abriga 542 detentos em 11 celas. A iniciativa faz parte das novas medidas que passam a ser adotadas com a transferência da administração das penitenciárias, que deixará de ser gerida pela Polícia Civil e passará para a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado.
Participaram da exibição, que ocorreu em um salão da ala do refeitório da penitenciária, três dos atores que atuaram no filme, Lui Mendes, Jeferson Brasil e Jonathan Azevedo. Ainda estavam presentes um dos roteiristas do longa, Júlio Ludenir e o coordenador das bases da Polinter do Estado do Rio de Janeiro, Orlando Zaccone.
Segundo Zaccone, as medidas tomadas pela nova administração das penitenciárias, como a exibição do filme, prevêem a humanização dos presos.
"A medida visa a facilitar a reintegração dos detentos na sociedade de forma a serem reinseridos na comunidade quando saírem da cadeia”, disse o coordenador das bases da Polinter.
Dentre as determinações da nova administração das penitenciárias estão, também, além da disponibilidade de atividades culturais, como a exibição de filmes, a construção de salas de aulas para que os presos possam estudar ou ter ensaios de teatro, por exemplo. Há ainda o projeto de construção de salas de banho de sol seguras e ambulatórios.



Após a exibição, o roteirista Júlio Ludenir respondeu às críticas dadas a esse estilo de filme, que faria apologia ao crime, destacando a visão que o longa pretende mostrar.
“Ao contrário do que dizem, de que o filme faz apologia ao crime, o objetivo foi mostrar as más condições de um preso quando ele sai da cadeia”, afirmou Ludenir.
“O protagonista, Daniel de Oliveira, que interpreta um dos mentores da facção Comando Vermelho (CV), depois de passar 37 anos na prisão, saiu doente e muito mal. Quisemos trazer para os jovens, que talvez pensem no crime como uma alternativa, a lição de que o crime não compensa”, completou o roteirista.
Para o ator Lui Mendes, que interpretou o bandido Maranhão, a experiência de assistir ao filme do qual participou em uma carceragem foi muito gratificante e só completou seus trabalhos de filmagem.
“Para as filmagens já tínhamos visitado penitenciárias, mas assistir aqui com os detentos ratifica a mensagem social que o filme quis passar e nos faz vivenciar a experiência de sofrimento da rotina dos detentos que criamos no laboratório para o longa”, disse o ator.
Público aprova
Um dos detentos que assistiu ao filme na Polinter de Neves, Marco Luiz da Silva, de 27 anos, preso há seis meses por associação ao tráfico e tráfico de drogas, disse que iniciativas como essa demonstram interesse de parte da sociedade pela qualidade de vida dos presos.
“Nós, presos, sempre fomos esquecidos e agora isso mostra uma melhoria para nós”.
Na exibição do filme, estava também uma comitiva do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro e membros da ONG Rio da Paz. A organização não-governamental realiza quinzenalmente, normalmente aos sábados, mutirões de limpeza e saúde, disponibilizando atendimento dentário e médico aos detentos, bem como limpeza das celas.
Em cartaz - O filme “400 contra 1 – A História do Comando Vermelho” estreou na primeira semana de agosto e conta as origens da maior facção criminosa do país, o Comando Vermelho (CV). O longa-metragem mostra que criado a partir do lema paz, justiça e liberdade, o CV surgiu e começou a agir no presídio de Ilha Grande, Rio de Janeiro.
A história é contada por um dos mentores da facção, William da Silva Lima, interpretado pelo ator Daniel de Oliveira.

O Fluminense 

http://jornal.ofluminense.com.br/editorias/cidades/filme-sobre-origem-do-comando-vermelho-e-exibido-para-detentos-em-sg 
 

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Daniel de Oliveira no ALTAS HORAS

Domingo passado, Daniel de Oliveira, protagonista do 400contra1, falou sobre o filme no programa Altas Horas! Assista abaixo:

Daniel de Oliveira no programa Altas Horas.
Imagens: Rede Globo.

domingo, 15 de agosto de 2010

"Violência Urbana" [ESTADO DE MINAS]

"VIOLÊNCIA URBANA
400 contra 1 usa a história do Comando Vermelho para abordar relações sociais e políticas atuais

MARCELLO CASTILHO AVELLAR
Sexta-feira, 6 de agostode 2010


Muita gente não sabe, mas sofre até hoje as sequelas de um dos mal feitos da ditadura que oprimiu o Brasil entre1964 e 1986: o crime organizado responsável por boa parte da violência urbana ao nosso redor é filho de uma das decisões incompetentes dos governos militares. Sem saber exatamente o que fazer com seus presos políticos e sem paciência para lidar com os criminosos comuns por meios tradicionais, a ditadura frequentemente acabou juntando uns e outros nos mesmos presídio se aplicando a todos o mesmo dispositivo legal – a famigerada Lei de Segurança Nacional. Entre as consequências perversas disso está o fato de que delinquentes que até então agiam individualmente ou se reuniam em pequenos grupos mais ou menos caóticos adquiriram conhecimentos de estratégia, tática, organização, disciplina, planejamento. 400 contra 1, dirigido por Caco Souza, é baseado no inspirado no livro homônimo e autobiográfico de William da Silva Lima – articulador do Comando Vermelho, uma das maiores organizações que nasceram daquele encontro entre prisioneiros há décadas.

No filme, William é interpretado por Daniel de Oliveira. O ator está se transformando no símbolo máximo dos rebeldes dos anos 1960, 70 e 80. Já foi Cazuza, Stuart Angel, Frei Betto – o anarquista que tenta fazer de sua própria vida a revolução e é vitimado pelas consequências dessa atitude em seu próprio corpo, o revolucionário que opta pela ação direta e acaba assassinado pela ditadura, o religioso que compactua com os rebeldes e conhece os porões da repressão por causa disso. William acrescenta uma nova faceta a essa multipersonagem: o homem cuja ação não é, inicialmente, conscientemente política ou ideológica, mas ao se politizar, torna-se ainda mais subversiva que a dos que se direcionam pela ideologia.



Clique para ver a reportagem completa.



400 contra 1 ganha ao se apropriar dessa imagem que o espectador de cinema tem de Daniel de Oliveira. Mas sua força vem, também, de outras fontes. Caco Souza é daqueles cineastas que aceitam a imagem “suja”, fora dos padrões assépticos da telenovela ou da grande produção americana. Transforma-a em metáfora da sujeira na sociedade que retrata. E faz isso dentro de uma estrutura temporal extremamente elaborada: seu filme é ágil na maneira como salta das origens do crime organizado num presidio durante os “anos de chumbo” da ditadura para o início dos anos 1980, a explosão das ações do Comando Vermelho. De brinde, sua reconstituição de época tem momentos preciosos: a perseguição de um fusquinha que leva criminosos por outro fusquinha, da polícia, por uma estrada, é exemplo brilhante de como um pequeno detalhe pode fazer diferença para definir todo um período. É mais um filme que tenta compreender a questão da violência no Brasil. Há quem não goste de ver o tema nas tela. Mas se considerarmos a importância que, segundo pesquisas, a população dá ao problema, não é surpreendente que a produção cinematográfica nacional se volte tanto para ele. Dentro dessa vertente, 400 contra 1, ocupa um espaço mais voltado para a conscientização do espectador que para a sensação. Não importa o quando o drama de suas personagens seja emocionante – há algo de épico (no sentido brechtiano) no filme. Quer nos ajudar a compreender o objeto de sua abordagem e, consequentemente, aproximar-nos de nosso mundo em suas relações sociais e políticas. E o Comando Vermelho é ótimo pretexto para esse processo. Não é uma organização, é um comportamento, uma forma de sobreviver”, nos diz William. Talvez o crime organizado tenha crescido exatamente porque soube propor um modelo para aquela sociedade brasileira não estava preparada – e, portanto, ao qual reagiu das maneiras que conhecia, inadequadas à nova questão."




quinta-feira, 12 de agosto de 2010

"400 contra 1" [TELA BRASIL]


"400 contra 1 – uma história do crime organizado

Publicado em 05/08/2010

Por Aline Khoury (@aline_khoury)

Maniqueísmo é a palavra de ordem na maioria das conversas sobre crime. Simplesmente rotular e jogar no grande saco do vilão é a saída encontrada por quase todos – como se toda a complexidade dos seres humanos pudesse ser resumida apenas pelo binômio bom-mau. Em quantas salas de aula, reuniões de família ou mesmo mesas de bar não ouvimos a velha máxima “bandido bom é bandido morto”? Nenhuma história merece ser ouvida, já que depois de tocar em uma arma a vida de uma pessoa parece entrar em um caminho sem volta, condenando-a eternamente a carregar um estigma de que jamais se livrará, que a retira de uma vez por todas do mundo dos bons.

Com estética cativante, approach popular e os toques da espetacularização à la Guy Debord, os blockbusters da bandidagem tornam os mesmos criminosos simpáticos aos olhos desses mesmos críticos. Rodeado de notas de cem, montes de cocaínas e pernas de prostitutas, o chefe do bando ganha seus minutos de herói, a despeito de qualquer sangue derramado para chegar ali. Ganha também os momentos de vítima da sua dura realidade, de moleque boleiro que simplesmente não via outro caminho a seguir. Se no clássico Carandiru o clima tendia mais para este lado, com alguns tons de compaixão sobre os conturbados passados, 400 contra 1 – uma história do crime organizado parece se encaixar mais no primeiro perfil com seus bandidos bacanões.

A estréia do diretor Caco Souza em um longa surpreende pelas dimensões dignas de super produção – nomes fortes no elenco, planos sofisticados, seqüências de ação empolgantes, belos cenários. O filme narra a formação do Comando Vermelho, facção que surge no presídio de Ilha Grande no final dos anos 70 e até hoje assina homéricos assaltos no Rio de Janeiro. A inspiração central vem do livro homônimo de William da Silva Lima, um dos pouquíssimos sobreviventes da primeira geração do grupo. Ataques do bando são relembrados pelo vai e vem de uma cronologia confusa. Costuma ser interessante entremear flashbacks, contando partes futuras que só se encaixarão depois. Mas há certo abuso dessa ferramenta que quase força o espectador a anotar as datas em um bloquinho.

Embora não faltem cenas deprimentes da imundice e extrema fome que acompanharam metade de suas vidas ali, a imagem que fica de William e seus amigos vem dos instantes heróicos da breve liberdade, cenário de seus golpes magistrais. Entra aí a trilha musical como chave para montar este perfil do bandido pop. Nada mais apropriado, então, que funk e soul para embalar a caminhada estilosa de topete e óculos escuros. Em grande parte, a escolha triunfa por fugir do piegas da música trágica com o pianinho comovente, ou até do manjado samba de morro. Algumas cenas, porém, teriam combinado melhor com o próprio silêncio, pois perdem parte de sua brutalidade e crueza com a empolgação da trilha. Certas atitudes da gangue mereciam essa pausa para prolongar a indignação do espectador com sua frieza, permanecendo mais indigestas, entaladas na garganta.

Nos ataques do CV, o que mais surpreendia a polícia era a extrema organização, em parte herdada do contato com presos políticos durante a ditadura. Encarcerados sob a mesma lei, muitos marinheiros e sindicalistas passaram para os presos comuns alguns planejamentos e estratégias. Comunistas e intelectuais já não tinham a mesma afinidade com os prisioneiros, embora certas vezes lhes apresentassem livros e com eles aprendessem outras táticas de roubo.

Compartilhar a mesma rotina de privações extremas e torturas em série despertou nos grupos um impressionante senso de coletividade. Os laços criados ali superavam quaisquer outros de fora – cada membro que conseguia escapar não se satisfazia plenamente enquanto seu parceiro não conseguisse o mesmo. Ainda que libertar o colega significasse arriscar sua própria liberdade. Mas se a solidariedade inexplicável levou o grupo flertar com um ou outro tema da esquerda, aos poucos o individualismo foi contaminando esse ideal comunitário.

Para libertar os amigos ou simplesmente voltar a bancar a vida, todos os caminhos parecem indicar a reincidência no crime. Afinal, o que há para um bandido em uma sociedade que não abre portas para reescrever sua história? A partir deste ponto a atitude da advogada passa a ser um pouco mais compreensível. Na visão desta intelectual da alta classe, a justiça de certa forma deve algo àqueles criminosos, ainda que tenham ferido a própria justiça.

Aí é preciso se perguntar de qual justiça se fala. Ser justo para quem, e de acordo com quais princípios? Os membros do CV acreditavam que faziam tudo em nome da justiça – ao seu modo. Para quem a justiça oficial nunca fez muito sentido, uma postura assim não é tão surpreendente. Ilustra bem essa lógica a frase do ladrão William durante a separação entre os prisioneiros comuns e os perseguidos da ditadura: “Quem são os verdadeiros presos políticos?” Afinal, se tem alguém para quem a política realmente dá as costas é para os pardos da Silva.

Enquanto a política faz vista grossa, a polícia oculta para si sua fragilidade frente à tamanha organização já conquistada pelo crime. Nesse sentido, é genial o detalhe do rádio noticiando que “a polícia incendiou o apartamento do bandido”, revelando a tentativa da mídia para encobrir a impotência policial. Afinal, não pegaria nada bem admitir que um bandido sozinho não deu a 400 policiais a chance de ver seu sangue.

Quem procura uma novela de ação e assassinatos tem no filme a escolha certeira. Não espere uma reflexão da violência urbana, mas a história de um homem contada como entretenimento. Aqueles que quiserem refletir sobre esse caos devem preferir o verdadeiro William no documentário Senhora Liberdade - uma aula de sociologia, aprendida em 37 anos de clausura."

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

"'400 contra 1' retrata a origem do Comando Vermelho" [Portal LIMÃO]

"'400 contra 1' retrata a origem do Comando Vermelho


A Ditadura Militar no Brasil é tema recorrente no nosso cinema. As variações sobre o mesmo cenário são muitas e o interesse dos cineastas pelo período histórico, legítimo. Em "400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado", de Caco Souza, que estreia hoje em circuito nacional, a Ditadura é encarada sob uma nova ótica: daquela que, de certa forma, dá munição para que o Comando Vermelho (CV), famosa organização criminosa do Rio de Janeiro, tomasse corpo.

Trailer de 400 Contra 1

Inspirado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos principais articuladores da organização, "400 Contra 1" identifica, no presídio de Ilha Grande, o Caldeirão do Diabo, o nascedouro do CV. E mostra como a ocasião, literalmente, faz o ladrão: se os anos de chumbo não prevalecessem naquele momento e se o sistema carcerário brasileiro, de fato, reabilitasse os presos, talvez esse organismo criminoso nunca teria existido.

Na tela, William da Silva Lima é vivido pelo ator Daniel de Oliveira. Conhecido pela bandidagem como "professor", William é um assaltante de banco que, numa ação fracassada, é preso nos anos 1970. Entre seus comparsas, estão militantes políticos que se juntam ao bando para garantir o sustento.

Depois de capturados, um a um, são levados ao Instituto Penal Cândido Mendes, na Ilha Grande, onde deparam com uma situação incomum naquele verdadeiro inferno longe do continente. Lá, estão confinados também presos políticos que, em vez de serem cerrados em prisões especiais, são levados ao presídio. Esses militantes intelectualizados, chamados de pequena burguesia, se sentem humilhados e pedem para serem separados dos bandidos comuns. O tratamento diferenciado causa revolta.

Mesmo mantidos em alas distintas, presos políticos e comuns mantêm contatos esporádicos, porém suficientes para abastecer a bandidagem com literatura "subversiva" e técnicas de guerrilha. William, o mais perspicaz do grupo, se interessa por esse material. Aliado a isso, sua convivência com outros criminosos e com a lei do mais forte faz com que ele passe de bandido ambicioso à cabeça pensante de uma organização, que protagonizou grandes assaltos a bancos e deixou a polícia carioca em estado de alerta entre final dos anos 1970 e início dos 80. As informações são do Jornal da Tarde.

AE - 09h44, Sexta-feira, 06 de agosto de 2010 "
 
Retirado do site: http://noticias.limao.com.br/entretenimento/ent175525.shtm

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"Paz, justiça e liberdade" - Entrevista com Caco Souza [GUIA DA SEMANA]

"Paz, justiça e liberdade
A trajetória que levou à criação do Comando Vermelho visto sob a ótica de seus fundadores ganha as telonas com o longa 400 contra 1
Por Leonardo Filomeno


Foto: Carolina Born.

Brasil, década de 70. Enquanto os militares instituíam a repressão e censura, muitos jovens eram encarcerados por expressarem suas opiniões políticas. Nas celas, o convívio com os presos comuns servia para unir os dois grupos perante as injustiças que o sistema penitenciário corroborava. Além dos presos comuns adquirirem respeito pela disciplina e companheirismo dos revolucionários de esquerda, aos poucos assumiram essas virtudes para montar o que seria a polêmica organização que controla até hoje o crime em muitas favelas do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho (CV).

Em cartaz a partir de 6 de agosto, o longa 400 contra 1 - Uma História do Crime Organizado é baseado no livro autobiográfico de William da Silva Lima, um dos principais fundadores do CV. A película aposta em cenas com truque de edição e ritmo dos videoclipes, aliando ao realismo documental para estrelar Daniel de Oliveira e Daniela Escobar a frente do elenco. Confira a entrevista do diretor Caco Souza, que conta suas principais impressões em seu primeiro longa-metragem.

Guia da Semana: Como surgiu a ideia de falar de um tema tão polêmico como esse, sobre a origem do Comando Vermelho?

Souza: Fiz há algum tempo um trabalho como documentarista de curtas sobre o assunto e queria montar meu primeiro longa baseado em uma história real. Fui atrás do tema ditadura e exílio - uma coisa que queria contar -, mas o livro do William me chamou mais a atenção por essa consciência do coletivo, da postura política, enquanto aconteciam coisas importantes no país, a formação desse grupo era uma delas.

Guia da Semana: Você não teve receio de mexer com essa temática e fazer apologia ao crime?

Souza: É lógico que o tema é complicado, mas a nosso objetivo era falar da origem de um grupo que não é o Comando Vermelho de hoje, que trafica drogas e prega essa violência. Estamos falando de um grupo que surgiu de assaltantes de bancos na década de 70. O que vem depois está fora do alcance do filme e do meu interesse.

Guia da Semana: Esse é seu primeiro longa metragem, você que trabalhou fazendo documentários e peças publicitárias. Quais as principais diferenças que sentiu nesse novo projeto?

Souza: A diferença é contar a história de uma maneira grande, sem ficar cansativo. Então você tem que saber como amarrar isso, ter um cuidado com o fator histórico, mostrar a violência, ao mesmo tempo em que faz recortes estéticos crus, mais próximos e mais impactante para a narrativa. O desafio era trabalhar com histórias rápidas, em uma linguagem menos cadenciada. Unir essa estética do cinema com o documentário, que rende boas histórias, conteúdo, procurar amarrar as duas coisas e ver no que dá.
 
Foto: Daniel Chiacos.

Guia da Semana: No filme, você usa cenas recheadas de referências pop, como no ritmo, trilha sonora e até a edição, com trejeitos de Quentin Tarantino. Essa foi sua ideia?


Souza: Sempre quis fazer um filme Pop - mas pop no sentido de popular, não pop como uma coisa gratuita, tentando parecer com outros filmes. O funk e soul, que estavam na trilha marcadíssima do Max de Castro e muito forte nos anos 70, não foi uma coisa gratuita. Achei que ajudou muito para fugir daquele clichê dos anos 70, de unir carioca, morro e samba. Não tenho nada contra samba, adoro, mas a gente não queria estereotipar. Tínhamos uma cena funk e soul muito legal nessa época e, se não preservar, daqui a pouco ninguém mais vai saber quem era Tim Maia, já que Gérson King Kong ninguém fala mais, a não ser algumas pessoas dos bailes funks do Rio de Janeiro.
Guia da Semana: De certa forma, a união dos presos políticos com os comuns em Ilha Grande resultou no surgimento de ideais que culminariam no CV. Como você vê esse desenrolar da história?

Souza: Tem até um relato do William que fala sobre isso. Ele comenta que a convivência dos presos políticos com os comuns é uma coisa que acontece a mais tempo, desde a época de Vargas, no Estado Novo. Lá eles começaram a difundir o hábito de leitura e aquela coisa toda. Nos anos 70, logo após o golpe, jornalistas, marinheiros e sargentos foram presos e levados para o presídio Lemos de Brito, onde os contatos foram mais intensos, com formação de leitura, grupos de estudo, biblioteca organizada, trabalhos manuais - tudo isso em um tempo em que não existia separação.

Guia da Semana: E quando ocorreu essa separação?

Souza: Essa separação aconteceu nos anos 80, com a lei de Segurança Nacional. É claro que, durante todo esse tempo houve uma troca de experiência entre eles, mas não é determinante você apontar que eles ensinaram técnicas de guerrilha, de resistência. Foi uma troca de ambos os lados e tinha a coisa de conduta, de organização de grupo, coletivo, da união fazer a diferença. Fica claro que essa troca de experiência e convivência fortaleceu esse grupo, a única forma de resistência que eles poderiam colocar ali dentro. O que vem depois já extrapola a nossa história. Aquele é um momento isolado, pelo fato dos maus tratos, torturas e repressão. Não era só a pressão do sistema carcerário, era a pressão dos quadrilheiros do próprio presídio. Então os presos encontraram uma maneira de se diferenciar, formando um coletivo para enfrentar a ditadura e os inimigos de dentro do próprio presídio.

Guia da Semana: Para realizar o filme, você manteve contato com William, autor da biografia que inspirou o longa. Conte como foi essa relação?

Souza: Sempre foi muito tranqüilo, desde a primeira vez que fui no presídio do Bangu 3, com autorização da Secretaria de Assuntos Penitenciários, do Rio. O William sempre esteve muito consciente da importância dele para a organização, que suas histórias e relatos pessoais eram fundamentais para a realização do filme. Tinha muito material de pesquisa e, cada vez que voltava para a prisão, checava com ele, discutia e conversava, no sentido de engrossar a história para transformar o personagem principal em um cara mais humano, nem um herói e nem um vilão. Minha preocupação era - apesar do filme ser em primeira pessoa - ser o mais isento possível.
 
Foto: Daniel Chiacos.
 
Guia da Semana: E em relação aos nomes dos personagens, você usou os reais ou preservou a identidade?


Souza: Tirando o próprio William, e o PC (Paulo César Chaves) que nos autorizaram a citar os nomes, os outros presos foram preservados. Como muitos morreram e não tínhamos contato com as famílias, preferimos omitir e não entrar em nenhum tipo de confusão. Muitas vezes agregamos duas ou três pessoas em um personagem só, porque eram muitas pessoas que participaram da história.

Guia da Semana: Você teve muitas dificuldades até chegar ao nome do Daniel Oliveira para protagonista?

Souza: A gente queria o Daniel desde a escolha da história. Como sabíamos que iríamos contar a história dos anos 70/80, escolhemos pelo vigor, pelo seu modo de atuação, pelo entendimento que ele tem dos personagens. Para mim, ele era o cara!

Guia da Semana: William Lima chegou a ver o filme montado?

Souza: Não. Está foragido desde 2008 e perdemos o contato. Espero que ele assista, mas como ele vai assistir, só Deus sabe. A última vez que tive contato foi em 2006, quando produzi o Resistir, o documentário que fiz com ele, Alípio e André Borges, o último um preso comum.

Guia da Semana: Você acha que o Comando Vermelho mudou muito suas características, desde o seu surgimento para cá?

Souza: Assim como a sociedade de uma maneira geral, mudou demais. A gente passou de um momento em que as pessoas acreditavam que o mundo poderia ser comunista, para um mundo totalmente capitalista. Então é uma coisa que você repara até no crime. No filme, por exemplo, mostra que o crime da época tinha divisão igualitária do dinheiro, mas agora o tráfico funciona como uma empresa, com os chefes, funcionários que ganham de acordo com a sua função, com salário mesmo. Transformou-se em uma empresa do sistema capitalista."


Retirado do site: http://www.guiadasemana.com.br/Sao_Paulo/Cinema/Noticia/Paz_justica_e_liberdade.aspx?id=66410

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"400 contra 1 - Violência urbana" [DIVIRTA-SE, portal UAI]

"400 contra 1 - Violência urbana
Filme usa a história do Comando Vermelho para abordar relações sociais e políticas atuais


Marcello Castilho Avellar - EM Cultura



Daniel de Oliveira (C) é o líder do Comando Vermelho no filme de Caco Souza

Muita gente não sabe, mas sofre até hoje as sequelas de um dos malfeitos da ditadura que oprimiu o Brasil entre 1964 e 1986: o crime organizado responsável por boa parte da violência urbana ao nosso redor é filho de uma das decisões incompetentes dos governos militares. Sem saber exatamente o que fazer com seus presos políticos e sem paciência para lidar com os criminosos comuns por meios tradicionais, a ditadura frequentemente acabou juntando uns e outros nos mesmos presídios e aplicando a todos o mesmo dispositivo legal – a famigerada Lei de Segurança Nacional. Entre as consequências perversas disso está o fato de que delinquentes que até então agiam individualmente ou se reuniam em pequenos grupos mais ou menos caóticos adquiriram conhecimentos de estratégia, tática, organização, disciplina, planejamento. 400 contra 1, dirigido por Caco Souza, é baseado no inspirado no livro homônimo e autobiográfico de William da Silva Lima – articulador do Comando Vermelho, uma das maiores organizações que nasceram daquele encontro entre prisioneiros há décadas.Veja mais fotos de 400 contra 1

No filme, William é interpretado por Daniel de Oliveira. O ator está se transformando no símbolo máximo dos rebeldes dos anos 1960, 70 e 80. Já foi Cazuza, Stuart Angel, Frei Betto – o anarquista que tenta fazer de sua própria vida a revolução e é vitimado pelas consequências dessa atitude em seu próprio corpo, o revolucionário que opta pela ação direta e acaba assassinado pela ditadura, o religioso que compactua com os rebeldes e conhece os porões da repressão por causa disso. William acrescenta uma nova faceta a essa multipersonagem: o homem cuja ação não é, inicialmente, conscientemente política ou ideológica, mas ao se politizar, torna-se ainda mais subversiva que a dos que se direcionam pela ideologia.
Confira os horários e onde está passando 400 contra 1

400 contra 1 ganha ao se apropriar dessa imagem que o espectador de cinema tem de Daniel de Oliveira. Mas sua força vem, também, de outras fontes. Caco Souza é daqueles cineastas que aceitam a imagem “suja”, fora dos padrões assépticos da telenovela ou da grande produção americana. Transforma-a em metáfora da sujeira na sociedade que retrata. E faz isso dentro de uma estrutura temporal extremamente elaborada: seu filme é ágil na maneira como salta das origens do crime organizado num presídio durante os “anos de chumbo” da ditadura para o início dos anos 1980, a explosão das ações do Comando Vermelho. De brinde, sua reconstituição de época tem momentos preciosos: a perseguição de um fusquinha que leva criminosos por outro fusquinha, da polícia, por uma estrada, é exemplo brilhante de como um pequeno detalhe pode fazer diferença para definir todo um período.

É mais um filme que tenta compreender a questão da violência no Brasil. Há quem não goste de ver o tema nas telas. Mas se considerarmos a importância que, segundo pesquisas, a população dá ao problema, não é surpreendente que a produção cinematográfica nacional se volte tanto para ele. Dentro dessa vertente, 400 contra 1, ocupa um espaço mais voltado para a conscientização do espectador que para a sensação. Não importa o quando o drama de suas personagens seja emocionante – há algo de épico (no sentido brechtiano) no filme. Quer nos ajudar a compreender o objeto de sua abordagem e, consequentemente, aproximar-nos de nosso mundo em suas relações sociais e políticas. E o Comando Vermelho é ótimo pretexto para esse processo. Não é uma organização, é um comportamento, uma forma de sobreviver”, nos diz William. Talvez o crime organizado tenha crescido exatamente porque soube propor um modelo para o qual a sociedade brasileira não estava preparada – e, portanto, ao qual reagiu das maneiras que conhecia, inadequadas à nova questão.


400 CONTRA 1 – UMA HISTÓRIA DO CRIME ORGANIZADO - 





Retirado do site: http://www.divirta-se.uai.com.br/html/sessao_3/2010/08/06/ficha_critica/id_sessao=3&id_noticia=26939/ficha_critica.shtml

CONFIRAM O FILME!!

Desde o dia 22 de julho demos início a uma série de pré estréias do 400contra1 em diversas cidades: Paulínia, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Belém do Pará. Salas lotadas, pessoas sentadas no chão e até algumas que infelizmente não conseguiram assistir devido a lotação da sala. Somando o público dessas exibições tivemos aproximadamente 2.000 espectadores que puderam conferir em primeira mão o resultado de um trabalho que me envolvi há oito anos atrás. Em cada uma dessas cidades equipe, elenco e eu recebemos um retorno extremamente positivo do filme. Desde sexta feira (6 de agosto) o filme está em circuito em várias salas de cinema espalhadas pelo país!!!! Para os que ainda não tiveram oportunidade: CONFIRAM O FILME!!!! Findo meu trabalho de concepção e realização do filme cabe a vocês espectadores fazerem a história do 400contra1!!!!!!!!

Meu muito obrigado aos que já assistiram e aos futuros espectadores!
Postem seus comentários!!!!!!
Como se diz no jargão do espetáculo: MERDA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Valeu!
Caco Souza


Veja algumas fotos das entradas nas pré-estréias:

Pré-estréia em São Paulo.

Pré-estréia em São Paulo.

Pré-estréia em São Paulo.

Pré-estréia no Rio de Janeiro.

Pré-estréia no Rio de Janeiro.

Pré-estréia no Rio de Janeiro.

domingo, 8 de agosto de 2010

"Assim nasceu o crime organizado" [ESTADÃO, por Caco Souza]

"Assim nasceu o crime organizado

A história da gênese do Comando Vermelho nos anos 70 em um presídio no Rio mostra a força do coletivo carcerário
por Caco Souza

Minha incursão no tema do filme 400 contra 1 se deu há oito anos, quando li 400 contra1: Uma História do Comando Vermelho, de William da Silva Lima, livro em que ele discorre sobre sua trajetória no mundo do crime. Achei instigante acompanhar o relato de um detento que teve sua primeira prisão, por furto, aos 17 anos e, entre fugas e recapturas, passou mais de três décadas encarcerado por assalto a banco. Somado a isso William, o "Professor", integrava um grupo de detentos que conviveu com presos políticos no Instituto Penal Cândido Mendes (Ilha Grande - RJ) nos anos 70.

Foi nessa época que ele liderou o movimento que instaurou um sistema de organização dentro da prisão, na época conhecido como "Falange Vermelha". Segundo as palavras de William "era uma forma de comportamento" face a um brutal sistema carcerário e impunha certas regras de convivência entre os detentos: não aos assaltos, não aos estupros e uma busca incessante pela liberdade.

O tema era polêmico, assim como o que William afirmava no livro: a controversa convivência entre os presos políticos e os presos "proletários" durante a ditadura brasileira.

Meu primeiro contato com William foi no presídio Bangu III. Anos depois, fruto do aprofundamento de minha pesquisa sobre as origens do Comando Vermelho, realizei dois documentários: Senhora Liberdade (2004) e Resistir (2006). Minha intenção era dar "voz" à sua versão dos fatos. Foi instigante acompanhar uma perspectiva que ia na contracorrente daquilo comumente divulgado sobre o Comando Vermelho e de sua suposta origem como fruto do "aprendizado" das técnicas de guerrilha dos presos políticos.

A pesquisa para esses documentários (com a colaboração da historiadora Ana Carolina Maciel) englobou documentos em arquivos, reportagens e obras de autores como Carlos Amorim e Júlio Ludemir. Confrontei esse material com o depoimento de William, que se impunha como a visão de alguém atrás dos muros.

Inspirado pela perspectiva de abordar os primórdios do Comando Vermelho e tendo como mote o relato de William iniciei o projeto do longa ficcional 400 contra 1. Sem a pretensão de esgotar um tema tabu, concentrei a trama nos anos 70, quando a noção de um coletivo carcerário, tão difundida no discurso de William, tomou forma dentro das muralhas do presídio Cândido Mendes.

Minha intenção não foi "contar" de forma asséptica e linear a origem do Comando Vermelho. Meu filme é uma trama ficcional (baseada em fatos reais) sobre o surgimento do CV. Procurei retratar esse episódio sem heroísmos e maniqueísmos. Nos dias atuais, o crime organizado desencadeia os mais diversos sentimentos na sociedade. Não falar sobre esse assunto não significa que ele deixe de existir. Abordar não significa fazer sua apologia ou glamourização.

O grande tema que perpassa o filme é o de um grupo de criminosos que percebeu a força do coletivo carcerário, se organizou e semeou o que ficou conhecido como o crime organizado brasileiro. William da Silva Lima tinha uma história para contar e eu quis contar. Tanto a versão de William quanto a minha implicam escolhas. Meu filme é uma ficção e como tal não intenta trazer um relato isento, até porque não há isenção possível em nenhuma forma de manifestação artística. Numa batalha sem vencedores o meu protagonista é um anti-herói.


Caco Souza. Foto: Marina Bottega

CACO SOUZA É CINEASTA. SEU DOCUMENTÁRIO RESISTIR GANHOU O PRÊMIO ESTÍMULO DA SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DE SÃO PAULO. O LONGA 400 CONTRA 1, QUE ESTÁ EM CARTAZ, É SEU PROJETO MAIS AMBICIOSO"



sábado, 7 de agosto de 2010

A GÊNESIS DO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL



“400 CONTRA 1”
A GÊNESIS DO CRIME ORGANIZADO NO BRASIL
por Amin Stepple



Nas últimas décadas, o crime organizado avançou rápido no Brasil, numa multiplicação de siglas que transformou os relatórios policiais numa sangrenta sopa de letras. Os bandidos têm sido bem mais eficientes nos gatilhos do que os mocinhos, que, no caso, deveriam ser os nossos cineastas. Com complexo de superioridade em relação à televisão (que não tem pudor em sujar de vermelho a tela), o cinema ainda busca temas nobres, daí certo esnobismo ao menoscabar esse fenômeno da criminalidade brasileira, que transforma o cotidiano das grandes cidades numa Cabul tropical.

O filme “400 contra 1”, do diretor Caco Souza, tem, logo de saída, o mérito de descer aos labirintos das profundezas do submundo do crime organizado. É a história da formação da primeira grande organização criminosa que surgiu no país, em meados dos anos 70: o Comando Vermelho, cujo lema Paz, Justiça e Liberdade domina hoje boa parte dos morros cariocas. Curiosamente, como se quisesse involuntariamente expiar a quase inexistência de filmes sobre o assunto, “400 contra 1” se propõe a narrar a gênesis, como surgiu o crime organizado no Brasil. A base do roteiro é o livro de igual título do assaltante de banco William da Silva Lima, o “professor”, fundador do Comando Vermelho e único sobrevivente do grupo de “pioneiros”.

“400 contra 1” não economiza nas tintas. É um filme de ação, entenda-se por isso que o trunfo é pau e os diálogos são apenas os necessários para que o “homem cordial” mostre a sua verdadeira cara. As sequências são hiperrealistas e, sejamos honestos com o produto nacional, convincentes e muito bem realizadas, na interpretação e na técnica. Aliás, em alguns momentos, mais eficazes do que as produzidas pela televisão brasileira. Vejam com olhos livres as cenas de fuzilamento do apartamento onde se refugiava a liderança do Comando Vermelho, na Ilha do Governador. O cinema americano informará, como dizia o poeta Oswald de Andrade. O diretor Caco Souza não discorda do antropófago modernista.

A direção naturalista dos atores principais e das dezenas de coadjuvantes acerta no alvo. Daniel Oliveira, no papel do líder histórico do Comando Vermelho, o “professor”, é um exemplo de que os personagens ficcionais, ao contrário do que ocorria em certa fase do nosso cinema, precisam estar à altura do talento dos atores que os encarnam. As cenas de combate dentro das masmorras não ficam nada a ver às de outros bons filmes, como “Carandiru”. Aliás, o cinema brasileiro adquiriu o estranho know-how de filmar com perfeição massacres em presídios, mais um reflexo antropofágico de nossa guerra particular. O cinema brasileiro ainda informará?

“400 contra 1” ainda desmitifica uma lenda prisional, cultuada pela literatura esquerdista, de que foram os chamados subversivos presos pela ditadura nos anos 70 que fizeram a cabeça dos presos comuns nos cárceres da Ilha Grande, no Rio de Janeiro. Isso teria acontecido graças à convivência pacífica entre os dois grupos. O filme mostra o contrário. Houve influência, sim, no sentido da organização e do aperfeiçoamento da estratégia dos assaltos a banco. Um dos bandidos dissidentes chega a ironizar o manual de guerrilha urbana de Marighella. Aliás, premonitoriamente, já que os próprios remanescentes da esquerda armada hoje consideram o manual uma peça mais próxima da ficção. O filme mostra que a tensão era permanente entre bandidos e guerrilheiros urbanos, como se aqueles não compreendessem estes, que pretendiam salvá-los das garras infames do sistema capitalista, para levá-los ao sonho libertário do socialismo.

O roteiro de “400 contra 1” conta com o auxílio luxuoso do escritor pernambucano Julio Ludemir, cujos livros abordam e expõem, de forma corajosa, as entranhas do crime organizado nos morros cariocas. As críticas ao filme, recém-publicadas, caem na mesmice de tentar transferir o filme como um produto que seria mais bem-sucedido no formato de seriado de televisão. O velho preconceito elitista do tema nobre, reserva (inútil) de mercado do cinema brasileiro. Enquanto existir esse falso dilema, os filmes não conquistarão o espectador que não se resigna a ficar sentado no sofá diante da televisão. Também se falou muito do vaivém cronológico do filme, com ações alternadas em anos diferentes. De fato, isso pode causar certa confusão temporal na cabeça do espectador, habituado a narrativas mais lineares. Mas, aqui, resta o consolo da frase de Godard: “todo filme tem começo, meio e fim, não importa a ordem”.

Por último, o bom filme de Caco Souza faz uma discreta homenagem a Omar Cardoso, um radialista famoso nacionalmente nos anos 70, que contribuiu para popularizar o horóscopo. “400 contra 1” relata como o ovo da serpente foi chocado. Mostra ainda que, se os militares durante a ditadura derrotaram a esquerda armada, eles perderam a guerra contra os bandidos organizados. O cinema brasileiro começa a assinar esse recibo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Daniel de Oliveira fala sobre o filme!

Daniel de Oliveira, protagonista do 400contra1, fala sobre como foi fazer o filme. Assista o video abaixo e fique sabendo como foi fazer o 400contra1



IMAGENS | Tyrell Thiago Nascimento Spencer
                Carolina Costa Silvestrin
                Juliano Ambrosini

É HOJE!

400contra1 estréia no circuito nacional. Não perca!!!!




"Nas telas, a origem do crime organizado" [ESTADÃO]

"Nas telas, a origem do crime organizado

Cineasta Caco Souza, em '400 Contra Um', fala da gênese do Comando Vermelho
06 de agosto de 2010
Luiz Carlos Merten


Nos últimos anos, a violência tem dado o tom de um certo cinema brasileiro, representado por diretores como Fernando Meirelles, José Padilha e Sérgio Rezende, em filmes como Cidade de Deus, Tropa de Elite e Salve Geral. Caco Souza soma-se agora ao trio com seu 400 Contra Um. O filme encerrou o recente Festival de Paulínia.
Divulgação
Daniel, como o professor 'foi de uma entrega extraordinária', diz o diretor

É ‘porreta’. Souza conta a história da origem do Comando Vermelho, sobre como presos comuns se organizaram dentro da penitenciária, cujas celas dividiam com presos políticos, durante a ditadura. Daniel de Oliveira faz o ‘professor’ - há sempre um professor na cadeia, que representa uma consciência do que está ocorrendo e fala pelos outros presos, articulando seu discurso.

Souza sabe que está colocando a mão num vespeiro. Afinal, seu filme chega ao circuito no momento em que há suspeita de que os ataques ocorridos em São Paulo sejam obras articuladas do PCC. Não é o Comando Vermelho, mas é outra organização criminosa. Face ao surto de violência, a maioria silenciosa é capaz de querer uma brutal erradicação da criminalidade: "Bandido bom é bandido morto." Neste quadro, Souza se recusa a fazer condenações sumárias e tenta entender o criminoso. "Não se pode pensar que o Brasil é só os Jardins ou a Zona Sul do Rio, aquelas faixas privilegiadas de Ipanema e do Leblon. Sou solidário com Fernando (Meirelles), com Padilha. Modestamente, também filmo para entender a radicalização da violência urbana no País", ele conta, numa entrevista por telefone de Belém, onde participa da campanha da candidata Ana Júlia Carepa (PT) ao governo daquele Estado.

O diretor horroriza-se com este clima de guerra civil instalado no Brasil. Agora mesmo, um office boy que estava desaparecido em São Paulo foi encontrado com sinais de execução sumária. O crime teria sido - ou foi - cometido por dois PMs que trabalhavam como seguranças no pequeno comércio de um cabo da corporação. Ele desconfiou de que o jovem - um trabalhador - poderia ser criminoso e foi o suficiente para encomendar sua morte. "Isso ocorre pelo sentimento de união corporativa e certeza de impunidade", avalia o cineasta. No filme, os bandidos se organizam dentro da cadeia. O ponto de vista é deles. Caco Souza baseou-se no livro de William da Silva Lima. Nas sucessivas entrevistas que teve com ele, o que percebeu foi o que colocou na tela - "Um clima de amizade e solidariedade como armas contra a repressão do regime militar."

O confinamento na prisão de Ilha Grande - o filme foi rodado parte no Rio, parte na penitenciária AHU, em Curitiba, no Paraná - despertava nos detentos, quais feras acuadas, o desejo de liberdade. Isso leva a outro aspecto que pode ser considerado controverso de 400 Contra Um. As cenas de assaltos a bancos passam um sentimento de euforia para o espectador. "Não concordo com essa sua ideia de euforia, mas é um tesão, com certeza. Depois de viverem confinados, aqueles homens e mulheres estão de novo na rua, e aproveitando-se disso", avalia o diretor. Mas Souza observa que olhar pelo ângulo de seus criminosos não o torna cúmplice - "O que quero evitar é a demonização. Sem essa de que vale tudo no combate ao crime. Desse jeito vamos reverter à barbárie."

O melhor de todos. Se a filmagem foi fácil, levantar os recursos, Caco Souza admite, foi um processo complicado. 400 Contra Um decolou em 2006 e só agora chega aos cinemas, quatro anos depois. O diretor só tem elogios para atores como Daniel de Oliveira e Daniela Escobar. "Ele talvez seja o melhor ator de sua geração. Ousa, muda de um papel para outro e aqui foi de uma entrega extraordinária. Entendeu minha proposta naturalista. Daniela será uma surpresa. Como aquela dondoca da TV virou essa pistoleira, muita gente vai se perguntar? Ela é uma atriz e acho que a mudança de personagem fará bem à sua carreira."

400 Contra Um - Uma História do Crime Organizado. Direção: Caco Souza. Gênero: Drama (98 min.). Censura: 18 anos."

Retirado do site: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,nas-telas-a-origem-do-crime-organizado,590898,0.htm

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

AMANHÃ ESTRÉIA O 400CONTRA1!


AMANHÃ ESTRÉIA O 400CONTRA1!


Amanhã [6 de agosto] estréia o 400contra1 em circuito nacional!!! O primeiro final de semana em cartaz é fundamental para o futuro do filme que depende diretamente do numero de espectadores nos primeiros dias da estreia!!!

Continuem acompanhando o 400contra1 no blogger, no Twitter e no Facebook!



Pré-estréia em Curitiba: Exposição de fotos do filme

Segunda-feira, dia 02 de agosto, o filme 400contra1 teve sua pré-estréia em Curitiba, onde parte das filmagens aconteceram. Para comemorar a chegada do 400contra1 aos cinemas, a Galeria Gourmet, localizada no ParkShoppingBarigüi, recebe a Exposição "400contra1 - Uma história do crime organizado". Segue o texto da exposição e algumas fotos. Quem mora em Curitiba pode ir lá conferir!

A exposição conta com fotos diversas fotos de Daniel Chiacos (http://www.danchiacos.blogspot.com/), e ainda de Tiago Coelho (http://www.tiagocoelho.com.br/) e Ana Carolina Maciel. Daniel Chiacos é também responsável pela incrível foto do cartaz do 400contra1.

"Durante os meses de janeiro a março do ano passado, aconteceram as filmagens de “400contra1 – Uma História do Crime Organizado” nas cidades de Curitiba, Rio de Janeiro, Ilha Grande e Porto Alegre. Curitiba foi cenário de grande parte do filme, sendo o Presídio do Ahú sua locação mais importante. Ali, atores consagrados, como Daniel de Oliveira e Daniela Escobar, atuaram ao lado de cerca de 40 internos da Colônia Penal Agrícola do Paraná, convidados como figurantes no filme. Nesse processo, elenco, equipe e internos trocaram experiências riquíssimas, marcantes na vida de todos.

Durante as filmagens de “400contra1”, surgiram imagens carregadas da intensa realidade vivida por todos os envolvidos no filme. O ParkShoppingBarigüi trouxe parte dessas imagens à Galeria Gourmet, para que o público pudesse entrar na realidade que fez nascer “400contra1“."

Fotos da galeria:
 


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

400contra1 no PAPO DE CINEMA!

"Elenco de "400 contra 1" esteve em Porto Alegre para lançamento do filme

Diretor e elenco de 400 contra 1

Na noite dessa terça-feira, 3 de agosto, rolou mais uma edição do Papo de Cinema, projeto de debate sobre filmes. Idealizada pela Phosphoros Novas Ideias em parceria com o Shopping Praia de Belas, a ação realizou um bate papo com elenco de 400 contra 1. Entre os presentes estavam os atores Fabrício Boliveira, Lui Mendes, Felipe Kannenberg, Daniela Escobar, Alexandra Scotti, o diretor Caco Souza e Max de Castro, diretor musical.

Daniela Escobar e Fabrício Boliveira

A trama retrata a formação do Comando Vermelho, uma das principais organizações do crime no Brasil. A história é focada em William de Silva Lima, vivido por Daniel de Oliveira, fundador do grupo. Durante pouco mais de uma hora, os participantes discutiram a cerca do enredo, curiosidades de gravação e suas visões sobre o cenário cinematográfico brasileiro.


Max de Castro

A atriz Daniela Escobar, que interpreta a personagem Tereza, afirmou que o cinema nacional ainda sofre com falta de investimentos, contrariando a perspectiva de Caco Souza. Quando questionado sobre algum tipo de retaliação por narrar um assunto tão polêmico, o cineasta disse que pelo contrário, houve uma comoção por parte de alguns núcleos pela proeza do fato.

Diretor Caco Souza e ator Lui Mendes

Após o debate, alguns convidados tiveram a honra de conferir, em primeira mão no RS, o tão esperado filme. Duas salas de cinema do Praia de Belas foram fechadas pela produção para exibição. 400 contra 1 entra em cartaz oficialmente a partir desta sexta-feira, 6 de agosto.

 Robledo Milani, crítico de cinema e mediador do Papo de Cinema

RAFAEL ALENCASTRO – BOTEQUIM BEAT!
botequim@poabeat.com.br
Fotos: Rafael Alencastro"

Camelôs de olho [O GLOBO]

"Camelôs de olho
'400 contra 1' estreia cercado de cuidados para escapar da pirataria
Plantão | Publicada em 03/08/2010 às 08h25m
Rodrigo Fonseca


Foto: Daniel Chiacos
RIO - Frente à demanda pelo DVD pirata de "400 contra 1 - Uma história do crime organizado", cuja estreia está agendada para sexta-feira, em cem cinemas nacionais, camelôs de todo o país, que não conseguiram acesso ilegal ao filme, começaram a apelar para a propaganda enganosa.

- Estou em Belém rodando uma campanha política e tive acesso a um DVD pirata com uma versão do cartaz do meu filme. Só achei curioso que eles mudaram o título de "400 contra 1" para "400 contra todos". Quando fui checar o porquê, descobri que o filme que vinha no disco era "Contra todos", de Roberto Moreira. Os piratas fizeram uma joint venture entre nós - brinca o cineasta paulista Caco Souza.

Seu filme e "Tropa de elite 2" são os longas nacionais mais aguardados do momento entre os vendedores ambulantes que vivem da pirataria.

- Filme brasileiro que dá tiro sempre vende muito. E esse fala de Comando Vermelho. O problema de "400 contra 1" é que ele não cai na nossa mão. Mas todo mundo quer ver o Cazuza de revólver - diz Aristeu Morais, camelô que faz ponto na Penha, referindo-se ao ator Daniel de Oliveira.

Revelado em "Cazuza - O tempo não para" (2004) e visto atualmente no papel de Agnello na novela "Passione", da Rede Globo, Daniel revive a trajetória de assaltos a banco de William da Silva Lima, o Professor. "400 contra 1" é inspirado no livro homônimo de William. Seu personagem ora vivencia ora narra os fatos mais importantes da produção de R$ 4,8 milhões rodada em locações em Curitiba, Porto Alegre, Rio e Ilha Grande. Escolhido como atração de encerramento do 3 Festival de Paulínia, há duas semanas, o longa escapou de ter um destino similar ao de "Tropa de elite" (2007) - visto por 2.421.295 pagantes em circuito, o filme contabilizou milhões de espectadores em vendas de DVDs ilegais - graças a uma estratégia simples.

- Em vez de editar o filme em outra produtora, Márcio Canella, meu montador, optou por fazer a edição em sua casa, usando seu próprio equipamento. E "400 contra 1" foi mostrado a pouquíssimas pessoas antes do corte que levamos para Paulínia. Corte finalizado às 15h do dia 22 (data da sessão em Paulínia) - diz Caco, cujo filme vem sendo encarado como uma prévia para "Tropa de elite 2", cujo lançamento está marcado para 8 de outubro.

Embora não entre pelo universo policial, concentrando-se mais nos golpes e na rotina carcerária de William e seus comparsas nos anos 70, o longa reabre as discussões sobre a falência da segurança pública no Rio - questão que justifica a existência do Capitão Nascimento (Wagner Moura) no longa de José Padilha. E, por pouco, "400 contra 1 - Uma história do crime organizando" não encarou o Bope de Padilha pela frente, uma vez que, originalmente, a volta de Nascimento aos cinemas aconteceria em agosto.

" O problema de '400 contra 1' é que ele não cai na nossa mão. Mas todo mundo quer ver o Cazuza de revólver "

- Escolhemos agosto para aproveitar o pós-férias, sabendo da tradição que o cinema brasileiro tem de emplacar filmes neste mês - diz Caco, ciente de que >ita

Em 2008, depois que "Era uma vez", de Breno Silveira, e "Última parada 174", de Bruno Barreto, gravitaram na fronteira dos 500 mil ingressos vendidos, a recorrência do crime nas telas foi marcada pelo sinal de desgaste. As reações entusiasmadas que o trailer de "400 contra 1" vêm provocando sugerem uma adesão popular. Ainda assim, analistas de mercado acreditam que o êxito comercial do filão com o qual ele dialoga necessita de ressonância social para atrair multidões ao cinema.

- A violência urbana só será um assunto de sucesso quando estiver ligada a algum evento histórico, a algum fato social que tenha se estabelecido como uma marca no imaginário, como foi a tragédia no presídio do Carandiru ou a guerra do tráfico da Cidade de Deus - diz Paulo Sérgio Almeida, do portal Filme B, cujo boletim semanal avalia as bilheterias dos filmes lançados em território brasileiro. - O interesse pela história de uma facção criminosa depende do tipo de abordagem que o diretor der a essa facção. A história da facção por si não é um chamariz. Pelo menos não foi com "Salve geral", que falava do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Se o futuro de "400 contra 1" depende da linguagem usada por Caco na recriação de fatos reais, o filme terá de contar com os elementos documentais usados pelo cineasta na recriação de fatos reais. Entre eles, a luta do criminoso Zé Bigode, chamado no filme de Cavanha e vivido por Fabrício Boliveira, contra um cerco policial de 400 pessoas, cujo enfrentamento dá título ao filme. Para imprimir realismo ao longa, o cineasta passou o roteiro do filme pelo crivo do escritor pernambucano Julio Ludemir, autor de "No coração do Comando" e de "Lembrancinha do Adeus". Pesquisador da origem do crime das comunidades cariocas, Ludemir abordou a vida do Professor nas pesquisas para o livro "O bandido da chacrete".
- "400 contra 1" é um filme mais do subúrbio do que do Arteplex, porque o público de Zona Sul tende, de imediato, a associar qualquer abordagem do banditismo com apologia - diz Ludemir, que está negociando exibições simultâneas do filme em presídios do Rio e da Baixada Fluminense. - Como não existe uma estrutura formal de telas para atender à demanda da Zona Norte e da Baixada por filmes que mostrem a favela à favela, a pirataria resiste. Qualquer filme brasileiro com ação pode chegar ao coração das massas, desde que elas tenham acesso aos filmes."

Retirado do site: http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/08/02/400-contra-1-estreia-cercado-de-cuidados-para-escapar-da-pirataria-917298406.asp